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Heeey Girls/Boys... sou apenas uma Adolescente que está se descobrindo,ah viva cada minuto da tua adolescência com responsabilidade!Chorar, cair, levantar, sorrir, fazer loukuras, faz parte da vida :D

Perdido(a)?

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Fallen- Completos estranhos {Capitulo 1}


Luce movimentou-se pesadamente para dentro de uma sala iluminada com lâmpadas fluorescentes do Colégio Sword & Cross dez minutos depois do que deveria. Um acompanhante com peito em formato de barril, bochechas vermelhas e uma prancheta presa sobre bíceps de ferro já estava dando ordens – o que significava que Luce estava atrasada.
— Então se lembrem: são remédios, camas e vermelho — o acompanhante rosnou para um grupo de três estudantes, todos de costas para Luce. — Se lembrem do básico e ninguém se machuca.
Luce escorregou rapidamente para trás do grupo. Ela ainda estava tentando descobrir se ela tinha preenchido a gigante pilha de papel corretamente, se esse guia de cabeça raspada parado na frente deles era um homem ou uma mulher, se havia alguém para ajudá-la com sua enorme bolsa de tecido, se seus pais iriam se livrar de seu amado Plymouth Fury no minuto que eles chegassem em casa, depois que a deixaram ali.
Eles vinham ameaçando vender o carro durante todo o verão, e agora eles tinham uma razão que Luce não poderia argumentar contra: ninguém podia ter um carro na nova escola de Luce. Sua nova escola reformatória para ser preciso. Ela ainda estava se acostumando com o termo.
— Você poderia, hum, você poderia repetir isso? — Ela perguntou para o acompanhante. — O que era, remédios...?
— Bem, olhe o que a tempestade trouxe — o acompanhante disse em voz alta, então continuou, enunciando devagar. — Remédios. Se você é um dos alunos medicados, é onde você deve ir para manter-se dopada, sã, respirando, ou seja lá o que for.
Mulher, Luce decidiu, estudando a acompanhante. Nenhum homem poderia ser malicioso o suficiente para dizer tudo isso nesse tom de voz zombador.
— Saquei — Luce sentiu seu estômago agitar-se — remédios.
Ela tinha se desligado dos remédios por anos agora. Depois do acidente no verão passado, Dr. Sanford, seu especialista em Hopkinton – e a razão de seus pais a mandarem para internatos lá em New Hampshire – havia considerado medicá-la mais uma vez. Embora ela o tenha convencido de sua quase-estabilidade, isso a fez ter um mês extra de análise da parte dela, só para ficar longe daqueles terríveis antipsicóticos.
Este era o motivo pelo qual ela estava se registrando em seu último ano no Colégio Sword & Cross um mês depois das aulas começarem. Ser aluno novo já era ruim o suficiente, e Luce estava nervosa o suficiente para entrar em turmas onde todos já estavam fixados. Mas pelo que parecia depois de sua excursão, ela não era a única novata chegando aquele dia.
Ela deu uma olhadinha furtiva para os outros três alunos em meio círculo em volta dela. Em sua última escola, Dover Prep, na excursão pelo campus foi onde ela achou sua melhor amiga, Callie. Em um campus onde todos os outros estudantes foram praticamente desmamados juntos, isso havia sido o suficiente que Luce e Callie fossem as duas únicas crianças sem legado. Mas não demorou muito para elas perceberem que tinham a mesma obsessão pelos mesmos filmes antigos – especialmente os relacionados com Albert Finney. Após a descoberta delas no primeiro ano enquanto assistiam Two for the Road que elas não podiam fazer um saco de pipoca sem ativar o alarme de incêndio, Callie e Luce nunca mais se separaram. Até... Até que elas tiveram que se separar.
Do lado de Luce hoje havia dois caras e uma garota. A garota era bem fácil de se enturmar, loira e com a beleza de comercial de cosméticos, com unhas bem feitas na cor rosa-pastel que combinava com sua pasta de plástico.
— Eu sou Gabbe — ela falou lentamente, lançando a Luce um grande sorriso que desapareceu tão rápido quanto surgiu, depois que Luce não disse seu próprio nome.
O desinteresse da menina lembrou-lhe mais uma versão sulista das meninas da Dover do que alguém que ela esperava na Sword & Cross. Luce não conseguia se decidir se isso era reconfortante ou não, ainda mais imaginar o que uma menina como aquela fazia numa escola reformatória.
À direita de Luce havia um garoto com cabelo castanho curto, olhos castanhos e sardas em volta do nariz. Mas o jeito que ele não olhava nos olhos dela, escolhendo cutucar a cutícula de seu polegar, deu a ela a impressão de que ele provavelmente estava atordoado e com vergonha de encontrar-se aqui.
O garoto à sua esquerda, por outro lado, preenchia a imagem da Luce deste lugar um pouco perto perfeitamente demais. Ele era alto e magro, com uma bolsa de DJ a tiracolo, cabelo preto desgrenhado, e grandes e profundos olhos verdes. Seus lábios eram carnudos e de um rosa natural que muitas garotas matariam para ter. Na parte detrás de seu pescoço uma tatuagem preta com formato de raios de sol parecia quase brilhar em sua pele clara, levantando-se a partir da borda de sua camiseta preta.
Diferente dos outros dois, quando esse cara se virou para encontrar seu olhar, ele o segurou e não deixou soltar. Sua boca foi definida em uma linha reta, mas seus olhos eram quentes e vivos. Ele a contemplava, de pé como uma escultura, que fez Luce se sentir enraizada em seu lugar também. Aqueles olhos eram intensos e sedutores, e bem, um pouco desarmantes.
Com um pigarro alto na garganta, a acompanhante interrompeu o transe. Luce corou e fingiu estar muito ocupada coçando a cabeça.
— Aqueles que entenderam o funcionamento estão livres para sair depois que deixarem aqui seus pertences de risco — a acompanhante apontou para uma grande caixa de papelão sob uma placa que dizia em grandes letras pretas MATERIAIS PROIBIDOS. — E quando eu digo livre, Todd — ela fechou a mão para baixo no ombro do garoto sardento, o que o fez pular. — Eu quis dizer dentro dos limites do ginásio, para encontrar o estudante predestinado para ser seu guia. Você — ela apontou para Luce — despeje seus pertences e fique comigo.
Quatro dos estudantes se juntaram em volta da caixa e Luce assistiu, perplexa, como os outros alunos começavam a esvaziar seus bolsos. A menina puxou um canivete suíço rosa de sete centímetros. O cara de olhos verdes relutantemente sacou uma lata de spray de tinta e um estilete. Até o infeliz Todd teve de deixar várias caixas de fósforos e um pequeno recipiente de fluído de luz.
Luce se sentiu quase estúpida por ela mesma não estar escondendo nada perigoso – mas quando ela viu os outros depositarem seus celulares dentro da caixa, ela engoliu em seco.
Inclinando-se para ler a placa de MATERIAIS PROIBIDOS mais de perto, ela viu que celulares, pagers e todos os dispositivos de rádios bidirecionais estavam estritamente proibidos. Já era ruim o suficiente que ela não poderia ter o seu carro! Luce fechou a mão suada em torno do celular em seu bolso, sua única ligação com o mundo exterior. Quando a acompanhante viu a expressão em seu rosto, Luce recebeu pequenos tapinhas na bochecha.
— Não desmaie comigo, querida. Eles não me pagam o suficiente para fazer ressucitação. Além disso, você tem direito a uma ligação telefônica por semana no átrio principal.
Uma ligação? Por semana? Mas...          
Ela olhou para seu telefone mais uma vez e viu que havia recebido mais duas mensagens de texto. Não parecia possível que essas seriam suas duas últimasmensagens de texto. A primeira era de Callie.
Me liga imediatamente! Estarei esperando ao lado do telefone a noite toda, então, esteja pronta. E se lembre do mantra que eu te ensinei: Você vai sobreviver! De qualquer forma, se isso importar, eu acho que todo mundo esqueceu sobre...
Do jeito típico de Callie, ela havia ido tão longe que o celular de Luce cortou quatro linhas da mensagem. De qualquer forma, Luce estava aliviada. Ela não queria ler sobre como todos em sua antiga escola haviam finalmente esquecido o que havia acontecido com ela. O que a fez vir parar nesse lugar.
Ela suspirou e abriu sua segunda mensagem. Era de sua mãe, que só havia aprendido a enviar torpedos há algumas semanas e que certamente não sabia sobre aquela coisa de uma-ligação-por-semana.
Querida, nós estaremos sempre pensando em você. Seja boa e tente comer proteína o suficiente. Nos falamos quando pudermos. Amor, M&P
Com um suspiro, Luce percebeu que seus pais deveriam saber. O que mais poderia explicar suas expressões elaboradas quando ela deu um tchauzinho do portão da escola essa manhã, com sua mala em mãos? No café da manhã, ela havia tentado fazer piada sobre finalmente perder esse terrível sotaque de New England que ela havia adquirido na Dover, mas os seus pais não esboçaram nenhum sorriso. Ela pensou que eles continuavam chateados com ela. Eles nunca haviam feito completamente aquela coisa de elevar a voz, então quando Luce estragou tudo, eles deram a ela o tratamento do silêncio. Agora ela entendia o estranho comportamento dessa manhã: seus pais estavam de luto pela perda de contato com sua única filha.
— Nós estamos esperando apenas uma pessoa — a acompanhante disse. — Eu me pergunto quem é.
A atenção de Luce voltou para a caixa de riscos, que agora estava transbordando de itens contrabandeados que ela não conseguia reconhecer. Ela podia sentir o cara de cabelos negros com seus olhos verdes fixos nela. Ela olhou em volta e viu que todo mundo estava com os olhos fixos. Sua vez. Ela fechou seus olhos e lentamente abriu sua mão, deixando seu celular escorregar e ganhar terreno no topo da pilha. O som de ficar completamente sozinha.
Todd e a robótica Gabbe dirigiram-se para a porta sem nada além um olhar na direção de Luce, mas o terceiro cara se virou para o acompanhante.
— Eu sou capaz de informá-la — disse ele, assentindo para Luce.
— Não faz parte do nosso acordo — a acompanhante replicou automaticamente, como se estivesse esperando esse diálogo. — Você é um novo estudante de novo – o que significa restrições de aluno novo. De volta para o nível um. Se você não gosta disso, deveria ter pensado antes de quebrar a sua condicional.
O garoto permaneceu imóvel, inexpressivo, quando a acompanhante rebocou Luce – que endureceu com o “condicional” – até o fim de um corredor amarelo.
— Mexa-se — ela incitou, como se nada tivesse acontecido. — Camas.
Ela apontou para a janela oeste de um prédio de concreto cinza. Luce podia ver Gabbe e Todd misturarem-se devagar em direção deles, com o terceiro garoto andando devagar, como se alcançá-los fosse a última coisa em sua lista de coisas a fazer.
Os dormitórios eram formidáveis e quadrados, um sólido prédio cinza cujas portas duplas não davam nada sobre a possibilidade de vida dentro delas. Uma grande placa de pedra permanecia plantada no meio do gramado morto, e Luce se lembrou do website as palavras DORMITÓRIO PAULINE esculpidas dentro dele. Parecia mais feio naquela manhã de sol confusa do que na plana foto preto-e-branca.
Mesmo nessa distância, Luce podia ver o bolor negro cobrindo a frente do dormitório. Todas as janelas estavam obstruídas por uma carreira de grossas barras de aço. Ela entortou os olhos. O que era aquele arame farpado em torno do prédio?
A acompanhante olhou para a lista, folheando o arquivo de Luce.
— Quarto sessenta e três. Deixe sua bolsa em meu escritório com o resto deles por agora. Você pode desfazer essa tarde.
Luce arrastou sua mala vermelha rumo a outras três malas pretas sem classificação. Então ela chegou a refletir sobre seu celular, onde ela costumava colocar as coisas que precisava lembrar. Mas, enquanto sua mão procurava em seu bolso vazio, ela suspirou e se comprometeu a gravar o número do quarto na memória.
Ela ainda não entendia a razão pela qual não podia ficar com seus pais; sua casa em Thunderbolt ficava a menos de uma hora da Sword & Cross. Ela havia se sentido tão bem em sua casa em Savannah, onde, como sua mãe sempre dizia, até o vento soprava preguiçosamente. O lugar mais suave da Georgia, tinha o ritmo adequado ao jeito de Luce mais do que New England nunca teve. Mas a Sword & Cross não era como Savannah. Era quase como um lugar qualquer, exceto pelo fato de ser um lugar sem vida e sem cor, onde o tribunal a havia colocado hospedada.
Ela havia escutado seu pai no telefone com o diretor outro dia, concordando em seu jeito confuso e fala de professor de Biologia, “Sim, sim, talvez seja melhor para ela ser supervisionada todo tempo. Não, não, nós não queremos interferir no seu sistema.”
Claramente, seu pai não havia visto as condições de supervisão de sua filha única. Esse lugar parecia uma prisão de segurança máxima.
— E sobre, como você disse... os vermelhos? — Luce perguntou para a acompanhante, pronta para ser liberada da excursão.
— Vermelhos — a acompanhante repetiu, apontando para um pequeno fio do teto: lentes com uma luz piscante vermelha.
Luce não havia visto isso antes, mas assim que a acompanhante apontou a primeira, ela pode notar que estavam em todo lugar.
— Câmeras?
— Muito bem — a acompanhante falou, a voz gotejando condescendência. — Nós a deixamos evidentes a fim de lembrá-los. Todo tempo, a todo momento, nós a observamos. Então, não estrague... quer dizer, se você puder evitar.
Todo o tempo, todos falavam com Luce como se ela fosse uma completa psicopata, e ela estava bem perto de acreditar que isso era uma verdade.
Por todo o verão, as memórias a vinham assustando, em seus sonhos e nos raros momentos em que seus pais a deixavam sozinha. Alguma coisa havia acontecido no chalé, e todo mundo (incluindo Luce) estava morrendo para saber exatamente o quê. A polícia, o juiz, o assistente social, haviam todos tentado forçar a verdade dela, mas ela não sabia nada tanto quanto eles. Ela e Trevor haviam brincado a tarde inteira, perseguindo um ao outro pela fileira de chalés em volta do lago, longe do resto da festa. Ela tentou explicar que essa havia sido a melhor noite de sua vida, até se tornar a pior.
Ela gastou muito tempo repassando aquela noite em sua mente, ouvindo a risada de Trevor, sentindo suas mãos em volta de sua cintura, e tentar conciliar seus instintos de que ela era realmente inocente.
Mas agora, cada regra e regulamento da Sword & Cross parecia trabalhar contra esse pensamento, parecia sugerir que ela era, de fato, perigosa e precisava ser controlada. Luce sentiu uma mão firme em seu ombro.
— Olha — a acompanhante disse — se isso a faz se sentir melhor, você está longe de ser o pior caso aqui.
Foi o primeiro gesto humano que ela demonstrou a Luce, o que a fez acreditar que ela queria fazê-la se sentir melhor. Mas... Ela havia sido mandada para cá por causa da suspeita morte do cara por quem ela era louca, e ela estava “longe de ser o pior caso”? Luce se perguntou com o que exatamente eles lidavam na Sword & Cross.
— Ok. A orientação terminou. Você está por sua conta agora. Aqui está um mapa se você precisar encontrar algo a mais. — Ela deu a Luce uma cópia de um bruto mapa desenhado à mão, então olhou para seu relógio. — Você tem uma hora até sua primeira aula, mas as minhas novelas começam as cinco, então... — ela balançou sua mão para Luce — Mantenha-se direita. E não se esqueça — ela disse, apontando para as câmeras mais uma vez — Os vermelhos estão de olho em você.
Antes que Luce pudesse responder, uma garota magra, de cabelos negros apareceu à sua frente, abanando seus dedos longos na face de Luce.
— Ooooh — a garota zombou com uma voz fantasmagórica, dançando em volta de Luce em círculos. — Os vermelhos estão de olho em vocêêêê.
— Sai daqui, Ariane, antes que eu tenha que lobotomizá-la — a acompanhante disse, embora fosse claro por seu breve, mas genuíno, sorriso que ela possuía alguma bruta afeição pela garota louca.
E estava claro que Ariane não era recíproca ao amor. Ela fez um gesto obsceno para a acompanhante, então parou na frente de Luce, a enfrentando para que ficasse ofendida.
— E só por isso — a acompanhante disse, anotando furiosamente em seu caderninho — você ganhou a tarefa de mostrar tudo em volta para a pequena Miss Sunshine hoje.
Ela apontou para Luce, que parecia qualquer coisa, menos ensolarada, com seus jeans pretos, botas pretas e top preto. Na seção do “código de vestimenta”, o website da Sword & Cross falava alegremente que enquanto os alunos tivessem bom comportamento, eles estavam livres para vestir o que quisessem, porém, com duas condições: o estilo deve ser modesto e as roupas deviam ser pretas. Muita liberdade.
A blusa de gola tartaruga que sua mãe a havia forçado a usar não fazia nada pelas suas curvas, e até sua melhor forma havia sumido: seu grosso cabelo preto, que costumava cair sobre sua cintura, havia sido completamente destruído. O fogo do chalé havia queimado seu couro cabeludo e deixado seu cabelo desigual, então depois da longa, silenciosa viagem de Dover para casa, sua mãe a colocara na banheira, trouxe o barbeador elétrico do pai e sem nenhuma palavra raspou sua cabeça. Durante o verão, seu cabelo havia crescido um pouco, apenas o suficiente para que suas ondas, outrora invejáveis, agora pairassem logo abaixo de suas orelhas.
Ariane a avaliou, dando um tapa com um dedo contra seus finos lábios pálidos.
— Perfeito — ela disse, dando um passo a frente para colocar seus braços em volta de Luce. — Eu estava realmente pensando que eu poderia usar uma nova escrava.
A porta do salão abriu e entrou o menino de olhos verdes. Ele balançou a cabeça e disse para Luce:
— Esse lugar não liga de te despir para fazer uma revista. Então, se você está guardando qualquer outro risco — ele ergueu uma sobrancelha e um punhado de objetos desconhecidos da caixa — salve-se dos perigos.
Atrás de Luce, Ariane prendia o riso. O cara virou a cabeça e quando seus olhos registraram Ariane, ele abriu sua boca e a fechou novamente, como se não tivesse certeza do que fazer.
— Ariane — ele falou uniformemente.
— Cam — ela replicou.
— Você o conhece? — Luce sussurrou, se perguntando se havia o mesmo tipo de facções em escolas reformatórias como haviam na Dover.
— Não me lembre — Ariane disse, arrastando Luce para fora da porta, dentro da cinza e alagada manhã.
Os fundos do prédio principal davam em uma calçada lascada, em volta de um campo bagunçado. A grama estava tão comprida que parecia mais um terreno baldio que uma área pública de uma escola, mas um desbotado placar e arquibancadas de madeira provavam o contrário.
Por trás do contorno do lugar, havia quatro prédios de aparência severa: o dormitório longe à direita; uma gigante, feia e velha igreja à extrema esquerda e outras duas grandes estruturas no meio deles, que Luce imaginou serem as salas de aula.
Era isso. Seu mundo inteiro estava reduzido àquela triste visão de seus olhos.
Ariane imediatamente desviou do caminho direito e levou Luce ao campo, sentando no alto de uma das arquibancadas de madeira molhadas.
A estrutura correspondente em Dover gritava Atleta da Ivy League em formação, então Luce sempre havia evitado ficar lá. Mas esse campo vazio, com essas enferrujados, deformados traves, contava uma história completamente diferente. Uma que não foi fácil para Luce descobrir. Três urubus turcos passaram acima de sua cabeça, e um vento triste chicoteou sobre os galhos nus dos carvalhos. Luce estremeceu e abaixou seu queixo para dentro da gola de tartaruga.
— Então — Ariane começou — agora você conheceu Randy.
— Eu pensei que fosse Cam.
— Eu não estou falando dele — Ariane disse rapidamente — a mulher-macho daqui. — Ariane virou a cabeça para o escritório onde elas haviam deixado a acompanhante vendo TV. — Que que 'cê acha? Homem ou mulher?
— Hm... Mulher? — Luce tentou. — Isso é um teste?
Ariane esboçou um sorriso.
— O primeiro de muitos. E você passou. Pelo menos, eu acho que você passou. O gênero da maioria do corpo docente daqui é um debate escolar em curso. Não se preocupe, você vai entrar nele.
Luce achou que Ariane estava fazendo uma piada – nesse caso, legal. Mas isso tudo era como uma enorme mudança da Dover. Em sua antiga escola, as gravatas-verdes-esgotantes, os engomados futuros senadores praticamente escorriam pelos corredores, no requintado silêncio que o dinheiro parecia passar acima de tudo.
Mais do que nunca, o pessoal da Dover lançava a Luce olhares tortos de não-suje-as-paredes-brancas-com-suas-impressões. Ela tentou imaginar Ariane lá: se espreguiçando nas arquibancadas, fazendo uma alta, bruta piada com sua voz mordaz. Luce tentou imaginar o que Callie pensaria de Ariane. Nunca havia ninguém como ela na Dover.
— Okay, desembucha — Ariane ordenou.
Pulando da arquibancada mais alta e apontando para que Luce se juntasse a ela
— O que cê fez para entrar aqui?
O seu tom de voz era brincalhão, mas de repente Luce teve que se sentar. Era ridículo, mas ela meio que esperava passar por seu primeiro dia de aula sem seu passado vindo a mente, roubando sua fina fachada de calma. É claro que as pessoas aqui vão querer saber.
Ela pôde sentir o sangue arranhar suas têmporas. Acontecia sempre que ela tentava pensar voltar – realmente voltar – àquela noite. Ela nunca parou de se sentir culpada com o que havia acontecido a Trevor, mas ela também tentava duramente não ficar atolada nas sombras que, por agora, eram a única coisa que ela se lembrava do acidente. Aquela escuridão, as coisas indefinidas que ela nunca poderia contar para ninguém.
Risque isso – ela começou a contar a Trevor a presença peculiar que sentiu naquela noite, sobre as curvas retorcidas sobre suas cabeças, tentando assombrar sua noite perfeita. É claro, então já era tarde demais. Trevor se foi, seu corpo queimado e irreconhecível, e Luce era... Ela era... Culpada?
Ninguém sabia sobre as tenebrosas formas que ela havia visto no escuro. Elas sempre vinham para ela. Elas iam e vinham há tanto tempo que Luce não conseguia se lembrar a primeira vez que as vira. Mas ela se lembrava da primeira vez que ela percebeu que as sombras não vinham para todos – ou na verdade, para ninguém além dela. Quando ela tinha sete anos, sua família estava de férias em Hilton Head e seus pais a levaram em uma passeio de barco. Estava perto do pôr-do-sol quando as sombras começaram a ondular sobre a água, e ela se virou para seu pai e disse “O que você faz quando elas aparecem, pai? Porque você não se assusta com os monstros?”
Não haviam monstros, seus pais a asseguraram, mas Luce repetia insistentemente a presença de alguma coisa oscilante e negra que a levou a várias consultas com o oftalmologista da família, e depois óculos, e depois consultas com o médico de ouvido depois dela fazer uma errônea descrição do som rouco de vento soprando forte que as sombras faziam algumas vezes – e depois, terapia, e depois, mais terapia, e finalmente a prescrição de remédios antipsicóticos. Mas nada os fazia ir embora.
Quando ela fez catorze, Luce se recusou a tomar seus remédios. Foi quando eles encontraram o Dr. Sanford e a Dover School perto. Eles voaram para New Hampshire, e seu pai dirigiu seu carro alugado por uma rodovia longa e sinuosa para a mansão no topo da colina chamada Shady Hollows. Eles colocaram Luce de frente para um homem de jaleco e a perguntaram se ela continuava tendo suas “visões”. A palma das mãos de seus pais estavam suando, enquanto eles agarravam as mãos, sobrancelhas franzidas com o medo de que houvesse algo terrivelmente errado com sua filha.
Ninguém veio e disse que se ela dissesse para o Dr. Sanford o que eles queriam que ela dissesse, ela provavelmente estaria vendo muito mais da Shady Hollows. Quando ela mentia e agia normalmente, ela estava permitida a frequentar a Dover e só tinha que visitá-lo uma vez ao mês.
Luce tinha sido permitida de parar de tomar as horríveis pílulas assim que começou a fingir que não via mais as sombras. Mas ela continuava sem ter controle sobre elas quando apareciam.
Tudo o que ela sabia era que o catálogo mental dos lugares que eles apareceram para ela no passado – florestas densas, águas turvas – se tornaram os lugares que ela evitava a todo custo.
Tudo o que ela sabia era que quando as sombras vinham, elas estavam acompanhadas de um calafrio gelado sobre sua pele, um repugnante sentimento diferente de qualquer outra coisa.
Luce sentou de pernas abertas em uma das arquibancadas e segurou suas têmporas entre seus polegares e dedos médios. Se ela queria fazer aquilo completamente hoje, ela tinha que colocar seu passado em recesso na sua mente. Ela não conseguia sondar sua memória daquela noite por ela mesma, então não havia nenhum jeito dela arejar todos os detalhes horríveis para algum esquisito, maníaco estranho.
Em vez de responder, ela observou Ariane, que estava deitada de costas para as arquibancadas, um par de enormes óculos escuros esportivos cobrindo o melhor da sua face. Era difícil afirmar, mas ela estava olhando para Luce, também, porque, depois de um segundo, ela se levantou das arquibancadas e sorriu.
— Corte meu cabelo como o seu.
— O quê? — Luce engasgou. — Seu cabelo é lindo.
Era verdade: Ariane tinha um longo, pesado cabelo, que Luce tinha perdido desesperadamente. Seus cachos negros soltos brilhavam na luz do sol, ganhando um tom avermelhado. Luce enfiou seu cabelo atrás das orelhas, mesmo que ele ainda não fosse longo o bastante para fazer qualquer coisa exceto bater de volta na frente deles.
— Linda porcaria — Ariane disse. — O seu é sexy, moderno. E eu quero ele.
— Oh, um, okay.
Seria isso um elogio? Ela não sabia se deveria estar lisonjeada ou enervada com o jeito que Ariane assumiu que poderia ter o que desejasse, até quando isso pertencia a outra pessoa.
— Onde nós vamos conseguir...
— Tcharã — Ariane abriu sua bolsa e tirou de lá o canivete suíço rosa que Gabbe havia deixado na caixa de perigos. — Que foi? — ela disse, vendo a reação de Luce. — Eu sempre mantenho meu dedo pegajoso no dia que os novos estudantes tem que se livrar dessas coisas. A ideia sozinha me veio em meus dias de cão no entretenimento da Sword & Cross... Hm... Acampamento de verão.
— Você passa o verão inteiro... Aqui? — Luce estremeceu.
— Há! Falando como uma verdadeira novata! Você provavelmente está esperando umas férias de primavera. — Ela atirou para Luce o canivete suíço. — Nós não vamos deixar esse inferno. Nunca. Agora corte.
— E as câmeras? — Luce perguntou, olhando em volta, com o canivete em mãos.
Haveria câmeras em algum lugar aqui.
Ariane sacudiu a cabeça.
— Me recuso a me associar com maricas. Você pode lidar com isso ou não?
Luce assentiu.
— E não me diga que você nunca cortou um cabelo antes. — Ariane agarrou o canivete suíço por trás de Luce, puxou a ferramenta de tesoura e entregou-o de volta. — Nenhuma outra palavra até você me dizer o quão fantástica fiquei.
No “salão” da banheira de seus pais, a mãe de Luce havia puxado os restos de seu longo cabelo em um bagunçado rabo de cavalo, antes de jogar tudo aquilo fora. Luce estava certa de que havia um método mais estratégico de cortar cabelos, mas como alguém que evitara cortes de cabelo durante toda a vida, a técnica do rabo de cavalo era a única que conhecia. Ela recolheu o cabelo de Ariane em suas mãos, pegou o elástico que estava em volta de seu pulso, segurou a pequena tesoura firmemente e começou a cortar.
O rabo de cavalo caiu nos pés dela e Ariane sobressaltou-se e apanhou subitamente. Ela o pegou e segurou na direção do sol. O coração de Luce se comprimiu com a visão. Ela estava agonizando pelo seu próprio cabelo perdido, e todas as outras perdas que isso simbolizava. Mas Ariane só deixou um delicado sorriso espalhar pelos seus lábios. Ela correu os dedos pelo rabo de cavalo, e depois o jogou dentro da bolsa.
— Maravilhoso — ela disse. — Continue.
— Ariane — Luce sussurrou, antes que pudesse parar a si mesma. — Seu pescoço. Está todo...
— Cheio de cicatrizes? Você pode dizer isso.
A pele do pescoço de Ariane, desde a parte de trás de sua orelha direita até seu colar de ossos estava com reentrâncias, marmorizadas e brilhantes. A mente de Luce foi até Trevor – para aquelas horríveis imagens. Até seus próprios pais não a olharam depois do viram. Ela estava tendo um mal momento olhando para Ariane agora.
Ariane agarrou a mão de Luce e pressionou contra sua pele. Era quente e frio, ao mesmo tempo. Era liso e áspero.
— Eu não tenho medo disso — Ariane disse. — Você tem?
— Não — Luce respondeu, enquanto ela desejava que Ariane tirasse sua mão, então Luce poderia tirar a dela também. Seu estômago se contorceu quando ela se questionou se a pele de Trevor seria assim.
— Você tem medo do que realmente é, Luce?
— Não — Luce disse outra vez, rapidamente.
Deveria ser óbvio que ela estava mentindo. Ela fechou os olhos. Tudo que ela desejava da Sword & Cross era um novo começo, um lugar onde as pessoas não olhariam para ela como Ariane estava olhando agora. No portão da escola essa manhã, quando seu pai sussurrou o lema da família em seu ouvido – “Prices nunca quebram” – parecia possível, mas agora Luce sentia-se decaída e exposta. Ela tirou sua mão.
— Então, como isso aconteceu? — ela perguntou, olhando para baixo.
— Se lembra que eu não te pressionei sobre o que você fez para estar aqui? — Ariane perguntou, erguendo suas sobrancelhas.
Luce assentiu.
Ariane gesticulou para as tesouras.
— Arrume a parte de trás, ok? Talvez isso me faça parecer realmente bonita. Talvez me faça parecer com você.
Mesmo com o mesmo corte, Ariane permaneceria como uma versão subnutrida de Luce.
Enquanto Luce estava ocupada com seu primeiro corte de cabelo, Ariane explanava as complexidades da vida na Sword & Cross.
— Esse bloco de celas ali é Augustine. É lá onde nós temos nossos tão falados eventos sociais nas noites de quarta-feira. E todas as nossas aulas.
Ela apontou para a construção com cor de dente amarelado, dois prédios à direita do dormitório. Parecia que havia sido desenhado pelo mesmo sádico que desenhara o Pauline. Era tristemente quadrado, tristemente parecido com uma fortaleza, cercado pelo mesmo arame farpado e janelas com grades. Uma névoa cinza fazia as paredes parecerem camufladas por musgos, tornando impossível de ver se alguém estava lá.
— Aviso claro — Ariane continuou — você vai odiar as aulas aqui. Você não é humana se não odiar.
— Por quê? O que há de tão ruim com elas? — Luce perguntou.
Talvez Ariane apenas não gostasse de escola no geral. Com seu esmalte preto, delineador preto e a bolsa preta que parecia grande o suficiente para caber apenas o novo canivete suíço dela, ela não parecia exatamente estudiosa.
— Aqui você vai ver o ginásio de ponta — ela disse, assumindo um tom nasalado de guia turístico. — Sim, sim, para os olhos inexperientes parece uma igreja. Costumava ser. Nós temos um tipo de arquitetura de segunda mão na Sword & Cross. Alguns anos atrás, algum maluco por exercícios físicos apareceu falando besteira sobre como supermedicar os adolescentes arruína a sociedade. Ele doou uma tonelada de dinheiro de merda então eles transformaram a igreja num ginásio. Agora os poderosos podem pensar que a gente desconta nossas “frustrações” de um jeito mais “produtivo”.
Luce gemeu. Ela sempre detestou educação física.
— Garota do meu coração — Ariane se condoeu — Treinador Diante é di-a-bó-li-co.
Enquanto Luce se movimentou para acompanhar, ela reparou no resto do recinto. O complexo da Dover havia sido bem cuidado, tudo bem feito e pontilhado em espaços uniformes, árvores cuidadosamente podadas. Sword & Cross parecia que havia tudo caído subitamente e abandonado no meio de um pântano. Salgueiros cujos galhos apontavam para baixo balançavam para o chão, kudzu crescia pelo muro em lençóis, e todo o terceiro piso escutava o barulho do respingo.
E não era apenas a maneira que o local parecia. Cada respiração úmida de Luce permanecia presa em seus pulmões. Apenas respirar na Sword & Cross fazia ela se sentir como se estivesse atolando em areia movediça.
— Aparentemente os arquitetos entraram num impasse enorme sobre como melhorar o estilo dos prédios da antiga academia militar. O resultado é que nós acabamos em um lugar metade penitenciária, metade zona de tortura medieval. E sem jardineiro — Ariane disse, tirando um pouco de limo de seus coturnos. — Tosco. Oh, e aqui está o cemitério.
Luce seguiu Ariane apontando o dedo para a parte mais longe do lado esquerdo do terreno, após o dormitório. Um manto ainda mais espesso de névoa pairava sobre a porção de terra sem muros.
Era delimitado dos três lados por uma densa floresta de carvalhos. Ela não podia ver dentro do cemitério, que parecia quase afundar-se debaixo da superfície, mas ela podia sentir o cheiro da podridão e ouvir o coro de cigarras zumbindo nas árvores. Por um segundo, ela pensou que ouviu o silvo das sombras – mas ela piscou e eles se foram.
— Isso é um cemitério?
— Aham. Isso costumava ser uma academia militar, caminho de volta nos dias da Guerra Civil. Então era aqui que eles jogavam todos os seus mortos. É arrepiante como todos caem fora. E meu sinhô — Ariane disse, acumulando um falso sotaque sulista. — Isso fede até os céus!
Então, ela piscou para Luce.
— Nós ficamos lá pra caramba.
Luce olhou para Ariane para ver se ela estava brincando. Ariane só deu de ombros.
— Okay, foi só uma vez. E foi só depois de uma grande festa de medicamentos.
Ora, essa era uma palavra que Luce reconhecia.
— Há! Ariane riu. — Eu acabei de ver uma luz acender aí em cima. Então, alguém estáem casa. Bem, Luce, minha querida, você provavelmente foi a festas de internatos, mas você nunca viu como as crianças de reformatórios colocam tudo abaixo.
— Qual é a diferença? — Luce perguntou, tentando esconder o fato que ela nunca foi a nenhuma grande festa na Dover.
— Você vai ver — Ariane parou e se virou para Luce. — Você vem essa noite e fica lá, okay? — Ela surpreendeu Luce pegando sua mão. — Promete?
— Mas eu pensei que você disse que eu devia manter distância dos casos perigosos — Luce brincou.
— Regra número dois – Não me escute! — Ariane gargalhou, balançando a cabeça. — Eu sou com certeza louca!
Ela deu uma corridinha e Luce foi atrás dela.
— Espere, qual é a regra número um?
— Me acompanha!

***

Quando elas viraram a esquina das salas de aula de paredes de bloco de cimento, Ariane deu uma parada.
— Pareça legal — ela disse.
— Legal — Luce repetiu.
Todos os outros estudantes pareciam estar agrupados em volta das árvores estranguladas pelo kudzu do lado de fora do Augustine. Nenhum deles parecia exatamente feliz por estar do lado de fora, mas ninguém parecia exatamente pronto a entrar, também.
Nunca houve muito código de vestimenta na Dover, então Luce não estava acostumada com a uniformidade do corpo estudantil. Então, novamente, apesar de todos ali usarem os mesmos jeans pretos, blusas de gola alta pretas e suéteres pretos amarrados sobre seus ombros ou em volta da cintura, continuava havendo diferenças substanciais no jeito que eles o usavam.
Um grupo de garotas tatuadas paradas em um círculo cruzado usavam pulseiras até seus cotovelos. As bandanas pretas no cabelo delas lembrou a Luce um filme que ela viu uma vez sobre gangues femininas de motocliclistas. Ela alugou porque pensou: O que pode haver de mais legal que uma gangue de motoqueiros só de mulheres? Agora os olhos de Luce trancaram-se em uma das garotas no gramado. O estrabismo lateral da garota de olhos-de-gato delineados de preto fez Luce rapidamente mudar a direção de seu olhar.
Um cara e uma garota que estavam de mãos dadas tinham lantejoulas costuradas em formato de ossos cruzados nas costas de seus suéteres pretos. A cada poucos segundos, um dos dois puxava o outro pra um beijo nas têmporas, no lóbulo da orelha, nos olhos. Quando eles envolveram seus braços em volta um do outro, Luce pode ver que ambos usavam pulseiras de rastreamento que estavam piscando. Eles pareciam um pouco rudes, mas estava óbvio o quanto estavam apaixonados. Toda vez que ela via as argolas de suas línguas piscando, Luce sentia um aperto solitário beliscando seu peito.
Atrás dos namorados, um grupo de garotos loiros estava encostado contra a parede. Cada um deles usava seu suéter, apesar do calor. E todos eles tinham camisas oxford brancas por baixo, o colarinho engomado para cima. As barras remendadas de suas calças pretas batiam na beira de seus sapatos polidos, que calçavam perfeitamente. De todos os estudantes no perímetro, esses garotos pareciam para Luce os mais próximos do estilo da Dover. Mas um olhar mais aproximado rapidamente os diferenciava dos garotos que ela costumava conhecer. Os caras como Trevor.
Apenas estando em grupo, esses garotos radiavam um tipo especial de tenacidade. Estava bem ali no olhar de seus olhos. Era difícil de explicar, mas isso de repente surpreendeu Luce, que assim como ela, todos nessa escola tinham um passado. Todos aqui provavelmente possuíam segredos que não queriam compartilhar. Mas ela não sabia se essa descoberta a fazia se sentir mais ou menos isolada.
Ariane percebeu os olhos de Luce rondando os outros alunos.
— Nós todos fazemos o que podemos para sobreviver durante o dia — ela disse, encolhendo. — Mas no caso de você não ter observado os abutres aproveitadores, esse lugar cheira muito bem a morte.
Ela tomou um lugar em um banco debaixo de um salgueiro e afagou o lugar perto dela para Luce.
Luce afastou um amontoado de folhas molhadas em decomposição, mas logo antes dela sentar, ela notou outra violação do código de vestimenta.
Uma violação muito atraente.
Ele vestia uma brilhante echarpe vermelha em volta do seu pescoço. Estava longe de estar frio lá fora, mas ele tinha uma jaqueta de couro preta de motociclista em cima de seu suéter preto, também. Talvez fosse porque ele era o único ponto de cor no perímetro, mas ele era tudo que Luce podia olhar. Na verdade, tudo parecia pálido em comparação a isso. Por um longo momento, Luce se esqueceu de quem era.
Ela notou seu cabelo dourado profundo e bronzeado apropriado. Suas maçãs do rosto salientes, os óculos escuros que cobriam seus olhos, a forma suave de seus lábios. Em todos os filmes que Luce tinha visto, em todos os livros que ela havia lido, o interesse amoroso era enlouquecedoramente bonito – exceto por aquela única pequena falha. O dente lascado, o charmoso topete, a bela marca em sua bochecha esquerda. Ela sabia por que – se o herói fosse imaculado demais, havia o risco dele ser inacessível. Mas acessível ou não, Luce sempre teve um fraco pelos sublimemente bonitos. Como esse cara.
Ele inclinou-se contra o prédio com suas mãos cruzadas suavemente sobre seu peito. E por um milésimo de segundo, Luce viu uma rápida imagem dela jogada nos braços dele. Ela sacudiu a cabeça, mas a visão permanecia tão clara que ela quase decolou em direção a ele. Não. Isso era louco. Certo? Mesmo numa escola cheia de malucos, Luce estava certa de que aquele instinto era insano. Ela nem ao menos o conhecia.
Ele estava falando com um aluno de dreads e sorriso cheio de dentes. Os dois estavam rindo forte e genuinamente – de um jeito que fez Luce se sentir estranhamente enciumada. Ela estava tentando lembrar qual foi a última vez que ela riu, realmente, daquele jeito.
— Esse é Daniel Grigori — Ariane falou, se inclinando e lendo sua mente. — Eu posso dizer que ele chamou a atenção de alguma pessoa.
— Eufemismo — Luce concordou, envergonhada quando ela percebeu como ela devia ter parecido para Ariane.
— É bem, se você gosta desse tipo de coisa.
— O que tem para não gostar? — Luce perguntou, sem conseguir fazer as palavras pararem de sair.
— O amigo dele lá é Roland — Ariane explicou, apontando na direção do garoto negro. — Ele é legal. O tipo de cara que pode conseguir coisas, sabe?
Não realmente, Luce pensou, mordendo seu lábio.
— Que tipo de coisas?
Ariane encolheu, usando seu canivete suíço roubado para cortar uma vertente desgastada de seu jeans preto.
— Apenas coisas. Tipo de coisas que você-pede-e-recebe.
— E Daniel? — Luce perguntou. — Qual é a história dele?
— Oh, ela não desiste — Ariane riu, depois limpou a garganta. — Ninguém sabe de verdade. Ele guarda bem firme sua misteriosa personalidade masculina. Pode ser simplesmente o típico babaca de reformatório.
— Eu não sou estranha a babacas — Luce disse, embora assim que as palavras saíram, ela desejou poder pegá-las de volta.
Depois do que aconteceu com Trevor – o que quer que tenha acontecido – ela era a última pessoa que deveria julgar pelas aparências. Mas, mais do que isso, nas raras vezes que ela fazia uma pequena referência àquela noite, o dossel preto das sombras se deslocava e voltava para ela, como se ela estivesse de volta ao lago.
Ela olhou de volta para Daniel. Ele tirou seus óculos e os deslizou para dentro de sua jaqueta, então, virou-se e olhou para ela.
Seu olhar apanhou o dela, e Luce viu enquanto seus olhos alargaram-se e rapidamente se estreitaram em um olhar surpreso. Quando o olhar de Daniel capturou o dela, sua respiração ficou presa em sua garganta. Ela o reconhecia de algum lugar. Mas ela iria se lembrar de conhecer alguém como ele. Ela iria se lembrar de se sentir tão absolutamente assombrada quanto se sentia agora.
Ela percebeu que eles ainda estavam com os olhos presos quando ele relampejou um sorriso para ela. Um jato de calor foi atirado nela e ela teve que agarrar-se ao banco para se apoiar. Ela sentiu os lábios dela derreteram-se num sorriso de volta para ele, mas então ele levantou sua mão no ar.
E mostrou-lhe o dedo do meio.
Luce arfou e deixou seu olhar cair.
— O quê? — Ariane perguntou, alheia ao que havia acontecido. — Esquece. Nós não temos tempo. Eu sinto o sinal.
O sinal tocou na deixa, e todo o corpo estudantil começou o lento arrastar de pés para dentro do prédio. Ariane estava segurando a mão de Luce e declamando orientações sobre onde se encontrar com ela depois e quando. Mas Luce continuava cambaleando por aquele perfeito estranho ter-lhe mostrado o dedo do meio. Seu delírio momentâneo sobre Daniel sumiu. Qual era o problema daquele cara?
Logo antes dela entrar em sua primeira aula, ela ousou olhar para trás. Seu rosto estava vazio, mas não havia dúvida – ele a estava observando ir embora.

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