Capítulo Quinze: “Ano novo, novo ano”
[N/A: Florzinhas! Decidi escrever em primeira pessoa mais uma vez. Mas
logo logo eu volto pra terceira, tudo bem? E ah, coloquem pra carregar: Adele – Hometown Glory]- Por que branco?
- Porque é ano novo.
- Tudo bem, mas por que branco?
- Cath, pára de me fazer essa pergunta. Vai perguntar pra Lu.
- Mas Julia, se eu perguntar qualquer coisa pra Lu agora, ela vai me responder com a primeira frase que ela ler no Flickr, quer ver?
- Vai lá.
- Lu? – Cath sentou na cadeira ao meu lado, e eu continuei olhando pra tela do meu notebook. É, agora eu tenho um, não uso mais o do Aguiar. – Por que a gente usa branco no ano novo?
- Porque o anjo usa Prada – eu respondi ainda olhando pra foto que estava na tela, confesso que segurei a risada.
- Viu, Julia? Não te disse? – Cath comemorou a confirmação da teoria.
- Cath deixa de ser idiota, ela fez de propósito – Julia veio rindo e me deu um tapa da testa. – Lua, como você é má, fica enrolando a menina.
- Cara, a Cath é muito boba – eu comecei a rir do bico que Catherine fez. – Mas fala sério, a frase que eu li até se encaixou na história: O anjo veste Prada. Anjo, branco, ano novo... Sacaram?
- Mas não é ‘O Diabo Veste Prada’? – Cath fez cara de confusa.
- Catherine eu acho que to começando a concordar com a Julia na teoria de que você só funciona a base de pancada – eu ri e dei um tapa na cabeça dela.
- Cath, antinha do meu coração – Julia fez uma voz terna e calma –, olha pra foto que a Lu tava vendo. Viu? Taí a piada, a menina da foto tá toda de branco, e com uma bolsa Prada.
- Aaaah, agora eu entendi – Cath sorriu como se tivesse feito uma descoberta científica. – Mas eu volto na pergunta: por que usar branco?
- Ah Cath, é meio que simbolizando os desejos pro ano que vai chegar, sabe? O branco representa a paz, e se tivermos paz, tudo se ajeita depois: amor, esperança, dinheiro... Entendeu? – eu respondi sem emoção.
- Quem é você e o que você fez com a nossa Lua Blanco? – Julia disse rindo – Você não era inteligente assim.
- Vá à merda, babaca – eu ri e mostrei língua. – Mas então, Cath, no Brasil as pessoas adoram passar a virada de ano na praia, então nem todo mundo fica todo de branco, o povo mistura o tradicional com cores mais praianas sabe? Eu mesma raramente uso branco.
- Ah, aqui na Inglaterra é meio impossível ficar de branco na hora da virada: casacos enormes pra agüentar o frio de dezembro. Mas depois, quando vamos pras festas, a galera meio que respeita a tradição do branco – Julia disse e sentou no meu colo pra mexer no computador.
- Vocês já escolheram o que vão usar? – eu perguntei quando lembrei que a festa aqui no hotel vai ser com o tema ‘Hawaii’, e o salão tem o teto todo de vidro, daí nós vamos conseguir ver todos os fogos e sem sair pros -2ºC que tá lá fora.
- Eu vou usar uma batinha branca e shortinho rosa claro – Cath aprontou pra mala, onde as roupas já estavam separadas.
- Eu decidi por aquela saia branca bem curtinha que eu comprei semana passada e a blusinha vermelha que a Cath ganhou de Natal da tia dela – Julia disse rindo ao ver a cara de indignada de Catherine. – E você Lu?
- Hum, como eu disse, eu não sou fã se seguir ‘o fluxo’ [n/a: isso me lembra de ‘Fluxo de idiotas’ – piada interna com a Amora] então eu vou de vestidinho floral verde e laranja, e All Star branco – o vestido é bem curto e rodado: a cara do Brasil, minha mãe mandou de Natal – e um top branco, porque o vestido é soltinho, e as alças ficam caindo.
- Uuh, é hoje que o Nick morre do coração – Julia disse rindo.
- Ou de frustração sexual se não conseguir nada – Cath gargalhou ao terminar a frase.
- CATHERINE! – eu senti que corei. – Então ele vai morrer mesmo, porque não vai acontecer nada desse tipo.
- E por que não, Lu? – eu mato a Julia e essa mania de fazer perguntas idiotas.
- Porque nós estamos ficando de verdade há 3 dias e eu não acho que seja tempo suficiente pra já ‘avançar’ assim – eu respondi tentando fingir indiferença.
- Ou será por que não é com ele que você quer que seja a sua primeira vez? – Cath sorriu de um jeito malicioso, e aquilo me irritou um pouco.
- Cara, eu to começando a me arrepender de ter contado pra vocês sobre o Arthur e eu – ah é, eu contei tudo pra Julia na noite da briga dos garotos. – Vocês sabem que não temos mais nada, mas mesmo assim ficam fazendo esse tipo de piadinha.
- Ah amiga, desculpa, sério. Mas é que é tão óbvio que você gosta dele, não que você não goste do Nick, mas a gente consegue ver que pelo meu irmão você sente algo mais forte – Julia sorriu de um jeito melancólico. – E eu o conheço também, e sei que ele gosta de você.
- Gente, eu não vou falar sobre isso. E outra, ele namora a Sallie, aceita as investidas da Liza e gosta de mim? – eu disse de um jeito irônico. – Esquisito né?
- Ok, não vamos discutir por isso – Cath acabou com o clima estranho que tava pairando no quarto. – Vamos falar mal da Liza, o que acham?
- Boa idéia! – Julia sorriu e deu um pulinho, e foi ai que eu percebi que ela ainda tava no meu colo; aproveitei e dei um beliscão na bunda dela. – Ai Lua, como você é má!
- Sai daqui, sua gorda – eu ri tentando esquecer o assunto anterior. – Mas então, falando sobre a Liza, eu tenho que admitir uma coisa: ela é direta e firme no que quer. Enquanto a gente faz o tipo ‘venha e me conquiste’, ela é do tipo ‘oi gato, te quero, o que me diz?’ – eu falei de um jeito de mulher fatal e fiz as meninas rirem.
- Sabe o que eu percebi também? – Julia saiu do meu colo e sentou na cama – Ela não é tão odiosa quando tá perto da minha mãe ou da mãe dela.
- Pois eu digo mais, ela é até legal quando o seu irmão não tá por perto – assim que eu acabei de falar, as duas me olharam assustadas. – Que foi? É sério. Esse tempo que os meninos estão passando no salão de esportes, ela foi até simpática comigo.
- Tá brincando né? – Cath ainda me olhava incrédula. – Ela é legal, ok. Mas simpática com você? Sendo que ela sabe que o que impede que o Arthur fique com ela é você? Porque, gente, vamos lá, a coitada da Sallie não faz diferença nenhuma pro Arthur.
- Tadinha da Sallie, não merece o que meu irmão faz com ela – Julia fez uma careta ao falar. – Mas assim, eu não o culpo totalmente, sabia?
- Ah é? Por que não?
- Porque, Lu, ele viu na Sallie um jeito de te fazer ciúme. E de te mostrar que se você tinha um Nick, ele podia ter uma Sallie.
- Julia, eu não consigo levar a sério essa história dele gostar de mim – eu mal terminei de falar e alguém bateu na porta.
- Meninas? Acho melhor vocês começarem a se arrumar – Sra. Aguiar disse sorrindo. – Lu e Cath, já ligaram pros seus pais? Porque pode acontecer de vocês não conseguirem ligar na hora da virada.
- Eu falei com eles pela web – eu mostrei o computador.
- E eu já liguei pro meu pai, e vou tentar ligar pra minha mãe de novo. Acho que ela tá em Roma, não sei – Cath agora adorava o fato de a mãe morar na Itália, segundo ela era tão ‘glamour’.
****
- Wow, arrasaram meninas! – Maira disse sorrindo quando nos encontramos no corredor. – Estão lindas.
- Brigada amor, mas cara, vocês duas também estão demais, hein? – Cath fez Maira e Mel darem uma voltinha, para vermos as roupas delas: Maira escolheu um vestido branco, soltinho bem leve e sandália roxa alta; já Mel estava de saia florida rodada em vários tons de azul, e uma blusa bem decotada branca.
- E como sempre, a do contra – Mel riu e mordeu minha bochecha. – Lua, é ano novo, você tinha que usar branco!
- Mas eu tô de branco, não viu meu Allstar? – eu disse indignada e levantei a perna mostrando o tênis.
- Belas pernas – Nick disse e eu abaixei a perna no mesmo momento, fazendo as meninas rirem.
- Bom meninas, a Lua já achou o homem dela, vamos procurar os nossos – Maira disse e nós rimos. Quando Cath passou por mim, sussurrou:
- Se fosse o Arthur falando das suas pernas, você teria corado na hora, mas com o Nick você nem liga – sorriu e seguiu as meninas, sem me dar chance de responder.
- Então minha linda, preciso confessar que essa sua mania de ser diferente é o máximo – Nick sorriu de um jeito meio tarado e me olhou dos pés á cabeça.
- Ok, você é idiota – eu ri e dei um tapa no braço dele, que segurou minha mão rindo e me encostou na parede.
- E você é perfeita – ele sussurrou bem perto da minha boca. Eu já estava pronta pra fechar os olhos, quando uma porta foi fechada com força me fazendo olhar de onde vinha o barulho.
- Desculpe atrapalhar – Arthur disse sério ao passar na nossa frente.
- Ele gosta de você – Nick disse segurando meu rosto com as duas mãos.
- Não, ele não gosta – eu respondi sem sorrir.
- Ele gosta de você – Nick dava um sorriso sem humor algum e me olhava nos olhos.
- Pra ele isso, ou melhor, eu sou só um jogo – ok, me senti a própria Rory Gilmore, mas isso a gente releva.
- Ele gosta de você, e por mais que eu te ame, eu sei que você ainda sente alguma coisa por ele – eu parei de respirar, sério. Eu fiquei hipnotizada pelos olhos azuis do Nick, e minha respiração parou, e acho que ela levou meus batimentos cardíacos junto com ela.
- Você... Você disse que... Que você me... – e parece que a minha habilidade de formar frases se foi também.
- Eu te assustei, desculpa Lu, eu sei que é cedo pra te falar isso – ah meu Deus, eu desesperei o menino. – Mas cara, é o que eu sinto. E eu não quero que você se sinta obrigada a dizer o mesmo, tá bem?
- Aham – foi tudo o que saiu da minha boca. Ah cara, não me culpem, eu entrei em choque.
- Lu, amor não fica assim – Nick riu e beijou minha testa. – Eu não pretendia te dizer assim, eu sei que você se assustou. Eu nunca vou te forçar a fazer nem dizer nada – daí ele me abraçou bem forte, me fazendo relaxar um pouco e aproveitar o conforto e segurança que os braços dele me traziam.
****
- Cara, é esquisito tomar um porre perto da minha mãe – Arthur disse e nós rimos. – É sério. Ela ficar sabendo que eu saí bêbado de uma festa através das revistas, é uma coisa, mas ela estar aqui me vendo beber... é estranho.
- Mas você já foi a festas com ela antes – uma Cath já bem alegrinha disse.
- Eu sei, mas vocês não estão entendendo! É ano novo, eu queria encher a cara mesmo – ele fez cara de desespero e nós rimos de novo.
Já eram 23:00h, a festa estava lotada, a musica era agradável. Mel e Chay estavam dançando, Julia e Billy estavam se agarrando em algum corredor, Sra. Aguiar e Margarite estavam sentadas à mesa com mais algumas senhoras, e o resto de nós [Maira, Maker, eu, Nick, Cath, Liza e Arthur] estávamos perto do bar conversando. Até que estávamos nos saindo bem, digo Nick, Arthur e eu.
- Se eu bem conheço a sua mãe, assim que passar a virada do ano, ela já vai dormir – eu disse pro Arthur, ele pareceu surpreso com isso, e eu sorri.
- Tomara que você esteja certa – ele sorriu pra mim. – Eu tô me sentindo um alcoólatra.
- Você tá parecendo um – Maira comentou rindo, nos fazendo rir também.
- Hey, que foi? – eu disse só pro Nick ouvir, me aproximando dele. – Tá tão quietinho.
- Não é nada – ele sorriu de lado. – Linda, é sério.
- Nicholas Hoult, me fala agora o seu problema – me fingi de brava e consegui um sorrisinho dele.
- Seu sorriso.
- Meu sorriso é seu problema?
- O seu sorriso pro Arthur é meu problema.
- Quê?
- O jeito que você sorri pra ele é encantador, você consegue ficar mais bonita ainda.
- Você é um paranóico, sabia disso?
- Eu sou realista, só isso.
- Eu não entendo por que você ainda quer ficar comigo sendo que você mesmo coloca esse tipo de idéia na minha cabeça.
- Eu tenho esperanças, só isso.
- Esperanças?
- De que um dia você goste mais de mim do que dele.
- Nick...
- Lu, relaxa – ele me deu um selinho e tomou um longo gole da bebida esquisita que tinha em seu copo. Resolvi deixar pra lá, afinal, ele já estava ‘alto’. Assim que virei pra conversar com a galera, percebi que o Arthur estava olhando pra mim, ele não desviou o olhar, somente sorriu sem mostrar os dentes e virou o rosto pra prestar atenção ao que a Liza falava.
Cinqüenta minutos depois...
- Lua? – nossa, meu coração até disparou quando ouvir o Aguiar me chamar pelo primeiro nome; olhei pra ele em sinal de que estava ouvindo. - Posso falar com você?
- Faltam uns 5 minutos pra contagem regressiva – não era desculpa, era verdade.
- Eu juro que é rápido – ele olhou pra onde o Nick estava com Billy. – Vem comigo.
- Pronto, pode falar – eu disse assim que paramos num corredor afastado do salão, estava até silencioso. Preciso comentar que parece que tá rolando um desfile de escola de samba dentro da minha barriga?
- Eu só queria que começássemos esse novo ano de um jeito diferente – ok Lua, não seja mente poluída, lembra do Nick e da Sallie. – Eu demorei pra sacar, mas finalmente eu entendi que nós não fomos feitos um pro outro – Arthur fez aspas com os dedos ao falar isso –; eu também sei que eu estraguei tudo inúmeras vezes por coisas bobas e fúteis; e, de verdade, eu queria que você me desculpasse por isso, porque você é uma garota incrível, inteligente, engraçada – ele parou um pouco, e sorriu sem vontade, por ver que eu estava sem fala. - Ok, isso tá parecendo uma declaração de amor. O que eu quero dizer é que eu percebi, ou melhor, aceitei o fato de que você é boa demais pra mim – eu arregalei os olhos, e Arthur acenou com a cabeça. – É sim, você é boa demais pra qualquer cara. Mas principalmente pra mim, eu não te mereço. E parece que o Hoult tá fazendo por onde ser o cara certo pra você. Eu não quero atrapalhar, eu juro.
- Olha, Arthur... – de onde eu tirei forças pra falar eu não sei, mas ele me interrompeu.
- Não, hoje eu falo e você escuta. Porque se você disser qualquer coisa, eu tenho medo de desistir de falar e estragar tudo de novo – ele respirou fundo. – O que eu tô tentando dizer é que... eu quero ser seu amigo. Chega de brigas e sofrimentos depois de uma sessão de agarramento – ele deu um meio sorriso e eu não pude evitar sorrir também, mesmo sendo um sorriso melancólico. – E queria te informar que eu decidi ser um bom namorado pra Sallie, sem mais puladas de cerca.
- Eu... Eu fico feliz em ouvir isso Arthur – engole o choro Lua, engole. – E, bom, esses dias eu tava pensando, e percebi que nós nem nos conhecemos direito, sabe? Essa coisa de sermos amigos pode dar certo... Eu acho.
- Podemos pelo menos tentar, certo?
- Certo – minha voz saiu meio tremida, e minha respiração falhou quando ele deu um passo á frente e me deu um abraço bem rápido, sussurrando ‘amigos então’.
****
[N/A: coloquem a música pra tocar, mas não liguem pra letra, o que interessa é a melodia ok?]
Cara minha cabeça tá doendo. Ah, não tem um centímetro do meu corpo que não esteja doendo. Não quero nem abrir os olhos. Por sinal, onde é que eu tô? Vamos lá, Lua, abra os olhos. Ah merda. Merda. Merda. Merda.
- Arthur? – eu disse baixinho quando olhei pro lado e o vi saindo da cama, usando só boxer e camiseta.
- Te acordei? Desculpa – ele me olhou de um jeito preocupado passando a mão nos cabelos bagunçados.
Jesus do céu, por favor, me diz que eu to vestida. Olhei pros lençóis e vi que estava com meu vestido verde e laranja. Ufa. Fala alguma coisa garota, ele tá olhando – Erm, Arthur o que eu tô fazendo no seu quarto?
- Tá se sentindo bem? – ele disse me olhando nos olhos. – Você bebeu um pouco ontem e a Catherine não sabia onde tava a chave do quarto de vocês, então eu te trouxe pra cá. Não fiz nada com você inconsciente – a voz dele falhou ao dizer isso, eu não entendi por quê. - E somente a título de curiosidade, eu dormi no sofá, ok? – então ele apontou pro sofá, que estava desarrumado indicando que ele realmente dormira lá.
- Ah tá, tudo bem – ah não me culpem por ainda estar abobalhada. Por que ele tá tão cauteloso assim comigo? – Hum, eu vou pro meu quarto. Preciso arrumar minhas coisas.
- Yeah! Calor, praia e sol nos aguardam! – Arthur levantou os braços em comemoração – É, se quiser conversar, pode me procurar, ok? – não entendi o motivo disso, mas concordei com a cabeça.
- Ok.
- Bom diiiiia. Feliz primeiro dia do ano!
- Lu, fala baixo – Cath resmungou escondendo a cabeça debaixo do travesseiro quando entrei no quarto. – AH MEU DEUS! Lua!
- Que foi? – do nada a menina pula da cama e começa a gritar, que maluca.
- Você tá bem? O que aconteceu? Tô me sentindo tão culpada por não saber onde a chave estava.
- Catherine, do que você tá falando?
- Você não lembra? O Arthur não falou nada?
- Lembrar do que? Arthur? Falando nisso, por que eu dormi no quarto dele?
- Não sou que tenho que te responder isso, florzinha – ela me beijou na testa demonstrando compaixão - Qual a última coisa que você se lembra de ontem?
- Hum... – forcei a memória, mas tá difícil recordar alguma coisa. – Bom eu lembro da virada do ano, a gente se abraçando, eu batendo no Chay, o Maker dormiu sentado, nós bebemos uns drinques esquisitos e a última coisa que me vem à cabeça foi quando o Nick me tirou da pista de dança.
- Só isso? Tem certeza?
- Tenho Cath. O que foi?
- Lu, acho melhor você ir falar com o Nick.
- Mas...
- Eu arrumo nossas coisas, vai lá falar com ele.
- Nick?
- Lu? – ele me olhou de um jeito estranho quando abriu a porta do quarto. – O que você tá fazendo aqui?
- A Cath me disse que eu precisava vir te ver, e agora eu vejo que a coisa é mais séria do que eu imaginei.
- Você me odeia, né?
- Por que eu deveria?
- Ah meu Deus, você não lembra – ele passou a mão nos cabelos, os deixando arrepiados –, vai ser pior ainda, eu vou ter que te contar.
- Que droga, eu to começando a ficar nervosa. O que aconteceu, Nick? – eu sentei ao lado dele na cama. – Você ficou com outra garota? Ou algo do tipo, foi?
- Não... Eu...
- Você...?
- Olha Lu, antes de qualquer coisa eu quero esclarecer que eu tava bêbado, tá bem? Eu nunca faria nada daquilo se eu estivesse normal. Você sabe que eu te amo e não faria nada pra te machucar intencionalmente.
- Você tá me assustando – ele tava mesmo, ainda mais quando tampou o rosto com as mãos e respirou fundo.
- Você tava dançando com a Mel e a Maira, daí o resto da galera resolveu ir dançar, só o Maker ficou na mesa dormindo, eu estava no bar te olhando – ele respirou fundo e me olhou nos olhos, e pude ver que estavam vermelhos, cara! Ele ia chorar? Eu estava realmente com medo de saber o que aconteceu. – Eu já tinha bebido o suficiente, mas quando eu vi o Aguiar se aproximando e bagunçando seu cabelo, eu esperava que você brigasse com ele, mas você deu um tapa no braço dele e riu. Você riu, Lua! Foi aí que eu comecei a beber mais ainda. Vocês estavam bebendo e dançando, se divertindo juntos, sem nem sentir minha falta. Daí a Julia pegou a câmera, e vocês estavam lá tirando fotos, o Aguiar abraçou você e a Cath pela cintura, e você... Você... – os olhos do Nick começaram a encher de água.
- Eu fiz o quê, Nick? – minha voz agora não passava de um sussurro.
- Você abraçou o Aguiar com tanta vontade, e o beijou...
- Eu beijei o Arthur? – agora sim minha voz saiu mais alta, tamanho o susto.
- Na bochecha, você o beijou na bochecha – suspirei aliviada e o Nick continuou. – Eu sei que é idiotice minha, mas isso foi demais; então eu levantei e te tirei da pista. Você já tava ‘alegrinha’, então não percebeu que eu te segurei com força demais; mas o Aguiar percebeu. Eu te levei até um corredor e... – foi aí que as lágrimas caíram dos olhos dele; Nick abaixou a cabeça apertando os olhos com força, fazendo as lágrimas saltarem dos olhos extremamente azuis. – E... eu quase, eu quase te forcei a... – a voz dele sumiu, ele estava com os cotovelos apoiados nos joelhos, e escondeu o rosto nas mãos. – Eu te prensei contra uma parede e você ficou meio mole, e eu não parei.
- Você... – agora os meus olhos estavam marejados, minha respiração ficou falha – Eu não acredito... Nicholas!
- Eu tava com tanto ódio de você e do Aguiar, mas principalmente de mim mesmo por gostar de uma garota que deixa claro que não gosta de mim – Nick se levantou e passou a mão com força nos olhos limpando as lágrimas. – Eu sei que isso não é justificativa pelo o que eu...
- Por favor... – meu choro já tinha ganhado o quarto, e estava tão descontrolado que eu até estava balançando a cada soluço. – Me diz que você não fez isso...
- Não fiz... Foi por muito pouco... – Nick se ajoelhou na minha frente e tentou segurar minhas mãos, mas eu as afastei. – Lua, por favor, acredita em mim, eu amo você... Eu...
- ME AMA? COMO VOCÊ PODE ME AMAR E FAZER UMA COISA DESSAS? – eu gritei na cara dele e levantei da cama. – MAS AGORA EU QUERO SABER O QUE TE FEZ PARAR? UM FIO DE CONSCIÊNCIA? OU FOI TODO ESSE AMOR QUE VOCÊ DIZ TER QUE TE DEVOLVEU A SANIDADE? AHN? ME DIZ!
- Eu não ia parar, eu tava fora de mim – ele disse baixo ficando de pé e de frente pra mim. – O Aguiar chegou... Ele chegou e te tirou de lá.
- Quê? – eu ouvi errado, só pode ser.
- Ele apareceu do nada, e te arrancou dos meus braços – ele mal terminou a frase e o som do tapa que dei no rosto dele ecoou no quarto.
- Eu não quero mais te ver... – minha voz saiu fraca por causa do choro e da descrença no que tinha acabado de ouvir.
- Eu não mereço, mas me perdoa, Lu. Eu amo você. Não era eu – Nick me abraçou com força e chorou com o rosto escondido no meu pescoço, sussurrando. – Me perdoa. Eu te amo.
- Eu não posso mais ficar perto de você – eu disse firme quando minhas lágrimas cessaram o afastando de mim. – Não por agora.
- Eu... Eu entendo – ele passou a mão no rosto e respirou fundo. – Quando sua raiva e desprezo passarem me dá mais uma chance de pelo menos conversar com você?
- Eu não prometo nada Nicholas – e com isso eu saí do quarto.
****
- Lua?
- Eu... Você disse que eu poderia vir se... – disse assim que ele abriu a porta, enquanto terminava de vestir um moletom vermelho.
- Você tá chorando?
- O Nick... Ele...
- Você lembrou ou alguém te contou?
- Ele me contou – recomecei a chorar e ele me puxou pra um abraço. – Ah Arthur...
- Vem cá – eu passei meus braços por sua cintura e fiquei com o rosto em seu peito, enquanto ele colocou uma mão entre meus cabelos e a outra nas minhas costas. – Shiu, vai ficar tudo bem. Se acalma, Lu, shiiu.
Ele foi me conduzindo de costas até sentarmos no sofá que tinha no quarto, mas em nenhum momento ele me soltou. Ainda chorando, eu deitei a cabeça no colo do Arthur, enquanto ele mexia no meu cabelo e cantarolava alguma coisa.
O cheiro dele, a voz dele, o toque, sua presença no geral, nada pode descrever a sensação, o conforto, paz e bem estar que me traziam.
Ficamos assim durante muito tempo, não sei dizer quanto. Só sei que não queria sair dali e encarar a realidade de que meu namorado quase me... Nem sei que palavra usar.
Parei de chorar, mas não me mexi. Comecei a fazer desenhos abstratos com a unha na calça jeans do Arthur; e então eu percebi o que ele estava cantarolando.
- Leona Lewis? – eu virei o rosto pra olhá-lo, e ele riu. – Nunca imaginei você cantarolando Leona Lewis.
- Eu escutei essa música não sei onde, e fiquei com a melodia na cabeça – Arthur continuou enrolando meu cabelo entre os dedos. – Ela é até legalzinha.
- É eu sei, porque provavelmente você me ouviu cantando ontem. Eu tava escutando o CD dela enquanto me arrumava – lembrei da altura que o volume do som estava no quarto, nem sei como a gerencia do hotel não reclamou.
- Ah. então foi você que me deixou viciado nessa música! – ele apertou meu nariz de leve e eu sorri. – Canta aí o refrão pra eu aprender.
- Ah não, não quero cantar não – escondi meu rosto com as mãos –, minha voz tá rouca por causa do choro.
- Ah canta, eu odeio ficar com a melodia sem letra na cabeça – Arthur começou a me fazer cócegas.
- PÁRA, PÁRA QUE EU CANTO – eu gritei rindo, ele parou e eu sentei no sofá – é assim, escuta...
So take a bow 'cause you've taken everything else
Então agradeça, pois você tomou tudo
You played the part, like a star you played it so well
Você fez o papel, como uma estrela você interpretou muito bem
Take a bow 'cause the scene is coming to an end
Agradeça, pois a cena está chegando ao fim
I gave you love, all you gave me was pretense, so now take a bow
Eu te dei amor, tudo o que você me deu foi fingimento, então, agora agradeça.
- Ok, essa letra não me trouxe boas lembranças – eu disse e, por incrível que pareça, consegui rir.
- Não vamos falar sobre isso, não agora que você parou de chorar – Arthur sorriu e bagunçou meu cabelo. – Já ta na hora de irmos embora, Lua Lewis.
- Lua Lewis?
- É, você cantou diretinho, até aprendi a letra.
- Ok, você é muito besta.
- Essa coisa de ser amigo tá dando certo, né?
- Até agora tá. Arthur? Brigada.
- Pelo quê?
- Por ontem... E por agora.
- Amigos servem pra isso, Lu – ele forçou o apelido e nós rimos.
****
- Bom, eu preciso ir ao meu apartamento pegar roupas de calor – Arthur disse assim que saímos dos carros em frente à casa dos Aguiar.
- Meu Deus, ele ainda lembra que tem um apartamento – Cath brincou, Julia e eu rimos e Arthur lhe deu um ‘pedala’. – Pensei que você tinha voltado pra casa da sua mãe.
- E a sua casa Cath? Há quanto tempo você não vai lá? – ele disse irônico e Cath só riu.
- Cara! É verdade, falando em minha casa eu lembrei de uma coisa pra contar – ela disse animada. – Meu pai ta namorando! Acreditam? Por isso que eu não vou mais tanto assim em casa, pra dar privacidade.
- Aham sei. Sua aproveitadora de casas alheias – Arthur brincou e nós rimos. – É sério, tenho que ir lá buscar roupas.
- Arthur, carro, carro, Arthur, e aquela ali é a rua, segue em frente que você acha um prédio e lá é onde você mora, quer que eu desenhe? – Julia fez gestos com as mãos indicando o carro dele e a rua.
- Senhoras e senhores, minha irmã Julia, a comediante – Arthur disse de um jeito teatral, e até a mãe deles que tinha voltado pra pegar mais coisas no carro acabou rindo também. – Ô palhaça, eu quero saber se nenhuma de vocês tá a fim de ir lá comigo.
- Posso fazer uma pergunta? – Cath levantou a mão, do jeito que nós deveríamos fazer no colégio, nós assentimos com a cabeça. – Por que você fala ‘alguma de vocês’, sendo que você tá convidando a Lua, no fim das contas?
- Eu... Erm... Eu não... – Arthur começou a gaguejar e nós rimos.
- Vamos logo antes que eu desista, Aguiar gago – eu o puxei pelo casaco e mandei beijo pras meninas.
****
- Me lembra de fazer alguma coisa que contenha chocolate quando voltarmos pra casa? – eu disse assim que entramos no carro.
- Tá, mas por quê? – Arthur me olhava de canto de olho, enquanto dirigia com cuidado pelas ruas congeladas de Londres.
- Porque as meninas merecem um ‘agrado’, por terem sido tão fofas durante a viajem de volta – Mag e Liza foram com a Sra. Aguiar; Mel, Chay e Maira no carro do Maker; Cath, Billy, Julia e eu no carro do Arthur. Durante a curta viagem, as meninas falaram o tempo todo, não me dando ‘tempo’ pra pensar no que aconteceu com Nick. – Então decidi que elas merecem alguma coisa com chocolate.
- Ok, mas eu também quero – Arthur concordou sorrindo.
- Tudo bem, você também merece – eu sorri e apertei a bochecha dele. – Sabe Arthur...
- Hum?
- Tudo isso é tão estranho.
- Isso o quê?
- A gente, de ódio e agarramento passando a ser amigos...
- É estranho e repentino... Mas eu prefiro assim do que você não falando comigo – ah que fofo, ele ficou vermelho, esse sorrisinho de lado ainda me mata.
- Mudando de assunto – é melhor mudar antes que eu perca a cabeça. – O que aconteceu com a Liza? Ela tá quieta e sumida.
- Ela tá brava comigo – Arthur me olhou de um jeito sapeca.
- O que você fez?
- Primeiro eu dei um fora nela, e quando eu tava te levando pro quarto – ele parou de falar vendo que minha respiração falhou –, quando aquilo aconteceu, ela me viu com você, e disse que eu era idiota por defender quem não me merecia, e eu fui estúpido com ela.
- Como eu queria ter visto isso – eu dei uma risada maldosa e Arthur parou o carro num farol. – O que você disse á ela?
- Eu disse, não é pra rir, viu Lua? – ele sorriu envergonhado. – Que preferia defender alguém que eu não mereço, desacordada e ainda assim linda, do que aturar uma garota fútil e vulgar como ela.
- Arthur, tá maluco? – eu dei um tapa na testa dele.
- Peguei pesado com ela?
- Não idiota, porque eu nunca daria risada, foi tão fofo – não vou comentar a parte em que meu coração bateu descompassado.
- Foi? – ele disse baixinho, se aproximando de mim e colocando uma mão no meu rosto.
- Aham – volta respiração, eu que mando, volta!
- Sabe Lua? – ele sussurrou bem perto – Você não acha que eu faria isso depois de tudo que eu te disse, acha? – ele riu e mordeu minha bochecha, voltando a dirigir.
- Arthur, você é mesmo muito besta – eu ri também pela situação cômica que ele criou, descontei a mordida no braço dele. – Você não deveria brincar assim comigo, estou emocionalmente fragilizada, sabe? – fiz um bico bem de criança mimada.
- Ah to vendo, já tá até fazendo graça sobre isso.
- Melhor rir do que chorar, certo?
- Certo – ele riu já estacionando o carro. – Sua tarada, você queria me beijar.
- Eca, nem brinca com isso, eu morreria intoxicada – fingi ânsia de vomito e ele gargalhou.
Sabe, o Nick é perfeito, mas às vezes não é perfeição que a gente procura, é uma vida com momentos tristes e momentos lindos, para que estes últimos sempre fiquem na nossa memória. Já pensou se só tivéssemos momentos bons? Não daríamos o devido valor a eles. E aqui nesse carro com o Arthur, eu vejo que posso ter tudo isso, com as minhas amigas e, bom, com meu novo amigo, Arthur Aguiar.
Continua.
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