‘Como ele tá?’ Falei tão
baixo que mal escutei minha voz.
‘Tá bem, quer dizer...pelo menos ele acordou!’ Ela
forçou um sorriso. ‘A gente precisa conversar.’ O sorriso desapareceu do rosto
dela e eu senti um aperto no peito. Balancei calmamente a cabeça confirmando e a
olhei tentando me manter calma.
‘Aconteceu alguma coisa?’ Minha voz saiu
falha.
‘Aconteceu sim minha querida. Eu conversei com o
médico e ele me falou algumas coisas sobre o estado de saúde do Arthur.’ Ela
parou suspirando e cada vez mais eu sentia meu peito ser esmagado. ‘Ele me falou
tudo detalhadamente claro, disse que agora o estado dele está estável. Mas que
eles não conseguiram evitar uma seqüela.’ Ela pegou minha mão que tremia e suava
frio.
‘Katia, pode falar. Eu agüento.’ Mentira, eu
estava quase desmaiando. Forcei um sorriso.
‘Lu, ele...perdeu parte da memória.’ Senti o chão
sob meus pés simplesmente sumir e uma dor insuportável em meu coração, por
alguns segundos achei que tivesse perdido todos os sentidos, até sentir a mão de
Katia apertando a minha. Olhei para seu rosto tenso ainda tentando assimilar as
palavras dela.
‘P-perdeu?’ Gaguejei.
‘Perdeu Lu, não completamente. Ao que parece ele
só lembra até mais ou menos uns 14 ou 15 anos. Eu e o médico conversamos com
ele, para tentarmos descobrir. Ele lembra dos amigos, da banda, mas...’ Ela me
olhou apreensiva.
‘Mas?’ A olhei já com os olhos cheios de
lágrima.
‘Ele não lembra de você Lu, e nem do Diego.’
Soltei um gemido de dor e ela me abraçou forte. Era como se tivessem arrancado
meu coração ou então partido ele em milhares de pedaços. O Diego, logo o Diego,
ele é uma criança, ele não vai conseguir entender isso. ‘Calma Lu, por favor.’
Katia pediu nervosa sem saber direito como agir.
‘D-desculpa.’ Me afastei dela e cobri o rosto com
as mãos.
‘Não, tudo bem minha querida. É só que ver você
assim me parte o coração, e eu não posso fazer nada pra te acalmar, te
tranqüilizar.’ Ela pegou minhas mãos e sorriu. ‘A partir de agora vai ser tudo
diferente Lu, por mais que a gente diga ao Arthur tudo que aconteceu, o médico
disse que ele dificilmente recuperará a memória, mas que não é impossível. Quem
sabe com o tempo, a convivência.’ Ela falava calmamente enquanto eu ainda
soluçava alto atraindo os olhares curiosos de algumas pessoas que passavam por
ali.
‘Mas Katia, o Diego. Ele é uma criança, como ele
vai lidar com tudo isso?’ Falei com a voz embargada.
‘Eu sei Lu, vai ser difícil. E eu sinceramente não
tenho um bom conselho pra te dar, também estou perdida ainda com tudo isso que
aconteceu. Achei que quando ele acordasse tudo voltaria ao normal.’ Ela começou
a chorar e eu me senti um pouco egoísta por estar tão desesperada apenas por
mim. A Katia sempre foi uma mãe coruja, Arthur é o garotinho dela, ela sempre
teve tanto medo de acontecer qualquer coisa com ele.
‘Katia desculpa, eu estou sendo egoísta.’ A
abracei e ficamos lá chorando juntas, sofrendo juntas. Porque tudo isso tinha
acontecer?
Comecei a pensar nos
últimos 3 anos da minha vida, tudo tinha ficado de cabeça pra baixo. Me mudei
pra Londres na expectativa de uma vida melhor, queria estudar, me formar e me
dedicar ao trabalho, o resto seria conseqüência. Até eu conhecer o cara perfeito
e ver a noite que era pra ser a mais perfeita da minha vida se transformar em um
pesadelo. Conheci Arthur em um bar junto com seus amigos de banda. Logo da
primeira vez que o vi senti as famosas borboletas no estomago, meu coração bater
acelerado e um sorriso idiota tomar conta do meu rosto. Conversamos a noite
inteira e acabamos ficando, mas estávamos bêbados demais pra ficarmos apenas nos
beijando, precisávamos de alguma coisa a mais. Ele me chamou pra ir ao
apartamento dele e eu fui mesmo sem saber direito que estava fazendo, e como dá
pra imaginar acabou rolando muito mais do que simples
beijos.
Até hoje não me lembro
muita coisa daquela noite, apenas alguns flashes. Acordei no dia seguinte
completamente de ressaca e completamente sem roupa, assim como Arthur. Saí da
casa dele antes que ele acordasse e deixei o numero do meu celular embaixo do
telefone dele. Nem sei por que fiz aquilo, sabia que ele não ia ligar, mas
quando estou de ressaca faço as coisas meio inconscientemente. Passei a semana
toda pensando em Arthur, lembrando do sorriso dele, da risada, dos seus olhos, e
quando já tinha certeza que ele nem lembrava mais de mim, meu celular tocou e
pra minha surpresa reconheci sua voz do outro lado da
linha.
Combinamos de nos encontrar
e mais uma vez acabamos a noite no apartamento dele, e mais uma vez acordei
completamente sem roupa deitada ao lado dele na cama, e mais uma vez saí pela
manhã antes que ele acordasse. Arthur é aquele tipo de cara que você se apaixona
de primeira, não por que ele é um conquistador, muito pelo contrario, talvez
seja por causa de sua espontaneidade. Ele é divertido, engraçado, tem um ótimo
papo, beija bem, é bom de cama. Não que eu seja experiente em se tratando de
sexo, pra falar a verdade, a minha primeira vez foi com o Arthur e eu tinha
acabado de fazer 16 anos. Pra alguns isso pode ser irresponsabilidade, mas a
verdade é que eu nunca tinha me sentido tão segura ao lado de um cara, ele tinha
me conquistado da forma mais simples e mais rápida possível. Claro que eu não o
amava, mal o conhecia, mas o pouco que já sabia sobre ele foi o bastante para
que eu tivesse certeza de que ele era o cara certo pra eu ter a minha primeira
vez. Depois dessa segunda vez se passou uma, duas, três, quatro semanas e ele
nunca mais deu sinal de vida. E eu também não fui atrás, sabia que eu era apenas
uma boa companhia e um bom sexo pra ele, nada mais.
Porque a gente sempre acha
que determinada situação nunca vai acontecer com a gente? Vemos tantos exemplos,
às vezes de amigos próximos, mas nunca estamos convencidos de que aquilo pode
acontecer com a gente, até que realmente acontece. Lembro daquele dia como se
fosse hoje, cada detalhe, cada sentimento, tudo.
Acordei me sentindo
enjoada, achei que tivesse sido apenas alguma coisa que tinha comido no dia
anterior, tomei um remédio qualquer e fui pra o colégio normalmente. O enjôo não
passou, e logo depois veio a tontura também. Comentei com a Sophia, minha melhor
amiga e que sabia de minha vida toda e ela sugeriu de uma forma digamos...sutil,
que aquilo poderia ser sintomas de uma gravidez. Sinceramente, na hora a única
coisa que e consegui fazer foi rir, claro! Imagina se eu poderia estar grávida,
eu tinha usado camisinha, não tinha? Me amaldiçoei pelo fato de não conseguir
lembrar de quase nada das duas noites que passei com Arthur. Tentei convencer a
mim mesma de que eu tinha sim usado camisinha, mas não consegui convencer
Sophia, que logo depois da aula me arrastou pra uma farmácia e comprou o teste
de gravidez.
Fui até em casa tentando
convencê-la de que definitivamente não estava grávida, claro que eu não estava,
eu não podia estar! Aqueles 5 minutos que esperamos pelo resultado foram os 5
minutos mais longos da minha vida. Sentia meu coração batendo cada vez mais
acelerado a cada segundo, minha pernas estavam inquietas e minha unhas já não
existiam mais. Tentei mais uma vez me convencer de que eu definitivamente tinha
usado a droga da camisinha, eu não poderia ter sido tão irresponsável. Ouvi Soph
gritar meu nome do banheiro e fechei os olhos respirando devagar e mentalizando
que eu era responsável e eu tinha lembrado da camisinha. Caminhei lentamente até
onde ela estava e a olhei esperançosa. Sophia apontou o pequeno frasco em cima
da pia e eu olhei prendendo a respiração. Me aproximei mais da pia e olhei
atentamente tentando me convencer de que eu só podia estar enxergando coisas,
ali não era duas linhas vermelhas eram? Não podia ser! Senti Sophia pegar em
minha mão e suspirar alto, balancei minha cabeça negativamente pensando que
aquele resultado tinha que estar errado, testes de farmácia não são tão
confiáveis.
No dia seguinte fui
novamente à farmácia e comprei outro teste, dessa vez sem Sophia, precisava
fazer aquilo sozinha. Novamente as malditas linhas vermelhas apareceram. Fiquei
ali, sentada no chão do banheiro jurando pra mim mesma que nunca mais colocaria
uma gota de álcool em minha boca. Perdi a noção do tempo sentada ali, chorei até
meus olhos começarem a doer e eu não ter mais forças nem pra me levantar. Ouvi
meu celular tocar alto em algum lugar do quarto, mas não fiz nenhum movimento,
eu não conseguia, sentia que qualquer movimento que fizesse iria me partir ao
meio. Fiquei mais algum tempo ali apenas pensando no que fazer, teria que falar
com meus pais obviamente, e quanto ao Arthur, eu sinceramente não tinha muita
certeza se ele ao menos lembraria de mim. Ouvi passos se aproximando e quando
dei por mim já estava chorando no ombro de Sophia, sempre me esquecia que ela
tinha a copia da chave do meu apartamento.
Um mês se passou mais
rápido do que eu esperava, já tinha ido ao médico, feito exames e já sentia um
pedacinho de vida dentro de mim. A parte mais difícil foi contar para meus pais,
não sabia se dizia que era de um cara que mal lembrava que eu existia ou se
inventava um namorando ou um ficante. Acabei falando simplesmente a verdade, não
conseguiria esconder deles durante muito tempo. Meu pai ficou meses sem falar
comigo, minha mãe foi para Londres ficar um tempo comigo e como ela mesma dizia,
tentar botar um pouco de juízo na minha cabeça. Mas de que adiantava? A besteira
já estava feita mesmo. Assim que ela chegou em Londres me obrigou a ir falar com
Arthur, afinal eu não poderia dar conta de um filho sozinha né? Eu tinha 16 anos
recém completados, era apenas uma estudante sustentada pelos pais em um país
completamente desconhecido.
Acho que nunca tive tanto
medo de uma situação, tive menos medo de contar pra meus pais do que pra Arthur.
Não sabia como dizer aquilo, ninguém chega pra um cara que transou duas vezes e
depois sumiu e fala "parabéns, você vai ser papai!". Eu não sabia se tinha medo
dele não lembrar de mim, se tinha medo dele dizer que não ia sustentar filho
nenhum ou de sei lá, ele me chamar de louca e me expulsar de lá, vai saber qual
a reação dele. Para minha surpresa ele me recebeu com um sorriso e ao que
parecia se lembrava perfeitamente de mim, inclusive do meu nome. Sentia cada
parte do meu corpo tremer com cada palavra que trocávamos, ele provavelmente
percebeu meu nervoso já que perguntou várias vezes se estava tudo bem, se eu
precisava de água ou qualquer coisa do tipo. Não sabia se tentava primeiro
entrar em uma conversa agradável e depois contava, ou se contava logo de uma
vez, desejei que minha mãe ou Sophia estivessem ali comigo, seria realmente mais
fácil.
Arthur começou a conversar
e eu apenas dava respostas monossílabas, tinha vontade de mandar ele calar a
boca e falar que estava grávida de uma vez, e foi o que eu fiz. Quer dizer...
não o mandei calar a boca claro, mas o olhei com medo e disse que tinha uma
coisa realmente séria pra falar com ele, e que era exatamente por isso que eu
tinha ido procura-lo. Ele se ajeitou no sofá e me olhou sem entender, respirei
fundo e soltei a bomba de olhos fechados, o medo e o pânico tinham tomado conta
de mim por completo, eu mal ouvia o que estava falando. Quando acabei de falar
tudo suspirei e abri os olhos encontrando Arthur estático me olhando, ele não se
mexia, nem piscava, fiquei com vontade de perguntar se ele ainda estava
respirando, mas não foi necessário já que a boca dele foi abrindo lentamente e
ele balançou a cabeça negativamente. Era como se ele quisesse falar alguma
coisa, mas não conseguisse. Mordi o lábio já me convencendo de que essa reação
era a mais óbvia, claro que ele não ia sorrir e dizer que nós seriamos felizes
para sempre. Ele ainda nem tinha feito 17 anos, era um adolescente inconseqüente
que gostava de sair pra se divertir com os amigos, ele não ia abandonar essa
vida por causa de um simples...filho.
Me levantei rápido falando
qualquer coisa que nem eu mesma entendi e saí de lá correndo, ele não foi atrás
de mim, nem gritou meu nome, acho que ele nem se mexeu do sofá pra falar a
verdade. Cheguei em casa já chorando e encontrei minha mãe me esperando como se
soubesse exatamente tudo que tinha acontecido, ela nem falou nada, apenas deixou
que eu chorasse em seu colo.
Mas a vida nem sempre é
exatamente do jeito que a gente espera, talvez a maior surpresa que eu tenha
tido durante todo o processo foi o dia em que eu encontrei Arthur parado na
porta da minha casa, achei que fosse algum tipo de alucinação, ou eu podia estar
sonhando acordada. Duas semanas já tinham se passado desde nossa ultima
conversa, ele não tinha me ligado e nem nada, tinha sumido exatamente como da
segunda vez que transamos. Ele me olhou com aquele olhar de "precisamos
conversar" e eu o convidei pra entrar, aquele não era bem o tipo de conversa pra
se ter no meio da rua. Minha mãe por sorte não estava em casa, Arthur iria se
arrepender amargamente de ter ido até lá se tivesse encontrado com
ela.
Talvez eu tenha julgado
aquele garoto inconseqüente de quase 17 anos cedo demais, nem sempre as pessoas
são o que aparentam ser, ou talvez apenas existam algumas exceções, e Arthur sem
duvidas é uma delas. Ao contrario de tudo que eu poderia ter imaginado sobre as
reações dele, ao contrario de tudo que a maioria das pessoas poderiam pensar,
ele fez exatamente o que ninguém poderia esperar de um adolescente, talvez nem
tão inconseqüente assim. Quando ele me falou que iria assumir aquele filho, que
iria bancar aquele filho e iria arcar com todas as conseqüências do nosso erro,
eu quase desmaiei. Minha única reação foi sentar rápido no sofá e o olhar como
se ele fosse algum tipo de alienígena. Eu não conseguia entender porque ele
estava fazendo aquilo, e ele parecia tão decidido, não parecia de forma alguma
estar ali por obrigação ou qualquer coisa do tipo. A partir daquele dia eu soube
que não importava o que acontecesse, Arthur estaria sempre presente em minha
vida.
Seis meses depois eu já
tinha sido assunto no colégio, assunto no shopping, na padaria, na rua ou em
qualquer lugar que passasse, afinal uma garota de 16 anos desfilando grávida por
aí não é exatamente comum. Minha mãe ainda estava comigo, mas eu sabia que
alguma hora ela teria que voltar para a vida dela, pro trabalho dela, pro marido
dela. Marido esse que por sinal ainda não falava comigo. Arthur estava presente
o tempo todo, principalmente depois que soube que seria um menino, quem visse o
sorriso que ele abriu quando o médico falou pensaria até que nós éramos o casal
mais perfeito do mundo, tendo o filho tão esperado.
Não foi exatamente uma
surpresa o dia em que eu cheguei em casa e vi as malas de minha mãe já prontas
no meio da sala. Ela me olhou como se pedisse desculpa e eu apenas a abracei com
a certeza de que mesmo distante ela sempre seria a pessoa que eu mais poderia
confiar. E Mais uma vez Arthur conseguiu me surpreender, dessa vez com nada
menos que uma proposta para que eu fosse morar com ele. Eu poderia esperar
qualquer coisa dele, menos um convite desses afinal nem éramos namorados, o
único laço que nos ligava era um projeto de ser humano que pesava cada vez mais
dentro da minha barriga. Ele disse que seria melhor, que ele poderia estar mais
presente e que eu não poderia morar sozinha estando grávida, de certa forma ele
estava certo. Não tive como recusar sua proposta, aliás, ele nunca deixaria que
eu recusasse. Menos de uma semana e eu já estava perfeitamente acomodada na casa
dele. Tinha um quarto de hospede que ele ajeitou pra mim, já tinha um pequeno
enxoval que nós tínhamos comprado algumas semanas antes e a maior surpresa de
todas, ele tinha comprado um berço! Seria completamente mentira se eu negasse
que a essa altura já estava completamente apaixonada por Arthur, nunca um cara
me surpreendeu tanto quanto ele. Durante todo aquele tempo se nos beijamos 5
vezes foi muito, e todas foram apenas conseqüências de algum momento, a gente se
empolgava meio sem querer.
No dia do parto eu tinha a
impressão de que Arthur estava mais nervoso do que eu, acho que ele seria
aqueles pais que desmaiam no meio do parto! Os amigos de banda dele estavam lá
tentando acalma-lo de alguma forma, conseguiram convencê-lo de que não seria bom
que ele assistisse o parto, o que me deixou bastante aliviada. Nunca uma dor foi
tão recompensadora como a dor do meu parto, quando a enfermeira colocou aquela
coisinha pequena e chorona no meu colo senti como se tudo a minha volta tivesse
sumido, meu peito se encheu de uma alegria tão imensurável, era como se eu
estivesse flutuando. Olhei pela janelinha que agora estava com a cortina aberta
e pude ver o sorriso imenso de Arthur enquanto as lagrimas escorriam por seu
rosto e os amigos lhe davam tapinhas no braço parabenizando-o. Algum tempo
depois já estava no quarto e Arthur estava do meu lado olhando para o bebê em
meu colo. Ele sorriu bobo passando o dedo pela cabeça do pequeno e com a outra
acariciava minha mão.
Fiquei no hospital 3 dias e
depois recebi alta para ir pra casa com o bebê. Eu e Arthur ainda nem tínhamos
escolhido o nome dele, achamos melhor esperar um pouco. Pouco tempo depois que
chegamos em casa tive um sonho com um bebê que se chamava Diego, achei que era
exatamente o que precisava para me decidir pelo nome do meu filho, Arthur adorou
o nome e foi assim que batizamos dele.
Vivemos durante dois anos
juntos, não como um casal, mas como um pai e uma mãe. Lógico que de vez em
quando rolava alguma coisa mais entre a gente, mas respeitávamos os limites um
dos outro, era nossa opção não assumir compromisso nenhum. Eu me apaixonava cada
vez mais por Arthur, com cada pequeno gesto ou pelas palavras mais simples dele,
nunca dissemos as famosas 3 palavrinhas um pro outro, mas eu sabia que o carinho
que ele sentia por mim era imenso. Perdi a conta de quantas vezes ele disse que
eu e Diego éramos duas das coisas mais importantes na vida dele. Apesar de tudo
durante aqueles anos fomos apenas pais.
‘Lu?’ A voz de Katia surgiu em minha mente me
despertando. Pisquei os olhos algumas vezes ainda tentando me localizar, parece
que em alguns minutos eu tinha revivido os últimos 3 anos de minha vida. A olhei
ainda confusa e ela sorriu meiga. ‘Acho que você quer ver ele né?’ A olhei sem
entender, ainda não tinha me situado exatamente. De repente a imagem do acidente
veio em minha cabeça. Não que eu lembrasse de muita coisa, já que eu desmaiei.
Mas lembro de Arthur falando alguma coisa nervoso, de uma freada brusca, o carro
rodando algumas vezes e depois de mais nada, só de ter acordado na cama de um
hospital.
‘Ah sim, claro.’ Sussurrei tentando afastar as
imagens do acidente de minha cabeça. Ela se levantou me puxando pela mão e
caminhamos lentamente por aquele corredor que eu já conhecia tão bem. Foram dois
meses andando nervosamente por ele, dois meses de agonia, dois meses sem Arthur.
Talvez os dois meses mais difíceis da minha vida, como eu poderia explicar pra
uma criança de 2 anos que o pai dele está em coma? Eu não tinha como falar isso
pra meu filho, mas a desculpa de que Arthur estava viajando já não o convencia
mais.
Quando Katia me ligou no meio da madrugada passada
avisando que ele tinha finalmente acordado nem pensei duas vezes. Acordei a babá
que tinha contratado pra me ajudar a cuidar do Diego durante esse tempo e vim
correndo para o hospital. Mais de 24 horas já tinham se passado, e só agora eu
finalmente o veria novamente, achei que fosse ser tudo tão fácil que ele iria
simplesmente acordar e perguntar pelo Diego, até eu receber a noticia da perda
de sua memória.
‘Pronta?’ Mais uma vez a voz de Katia me despertou
do transe. A olhei apreensiva e ela sorriu tentando me passar confiança.
Balancei a cabeça positivamente e quando ela abriu a porta
posta mais por favor
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