`Arthur,
você tem que falar logo com ela!` Ouvi a voz de Sophia quando saí do
elevador na casa do Micael. Minhas visitas já eram diárias a mais de
dois meses, e não havia um dia que Diego não perguntasse quando Arthur
voltaria pra casa.
`Eu vou falar, Soph! Só não sei como!` Arthur respondeu no mesmo tom, e eu fiquei alguns segundos parada na porta imaginando se ela, seria no caso... eu.
`Eu vou falar, Soph! Só não sei como!` Arthur respondeu no mesmo tom, e eu fiquei alguns segundos parada na porta imaginando se ela, seria no caso... eu.
Diego me olhou se entender porque eu estava parada e eu sorri tocando a campainha.
`Hey, chegou cedo hoje!` Soph me olhou estranho e eu tive certeza de que eles estavam falando sobre mim.
`É, mal cheguei em casa e a criança já ficou insistindo pra vir.` Falei apontando pra Diego que já tinha corrido pro colo de Arthur. `Então, já resolveu se mudar pra cá?` Brinquei e Sophia deu língua.
`Não foi por falta de convite!` Micael apareceu nos fazendo tomar um susto. Eu ri e Sophia deu um tapinha em seu braço.
`Nossa, to com fome. Nem deu tempo de comer antes de sair de casa. O que tem aí, Micael boy?` Fui em direção a cozinha, mas a voz de Sophia me interrompeu.
`Na verdade, Lu, o Arthur acabou de dizer a mesma coisa, né, Arthur?` Ela o olhou sorrindo forçado e ele a olhou sem entender. `Vocês podiam sair pra comer alguma coisa, a gente fica com o Diego!` Ela me olhou sorrindo. `Starbucks! Olha que ótimo, aqui pertinho e um lugar super tranqüilo!` Ela lançou um olhar mortal na direção de Arthur e até eu me assustei.
`Hm, claro!` Ele falou ainda desorientado. `Se importa?` Arthur apontou pra porta me olhando.
`Sem problemas.` Falei olhando pra Sophia. `A gente já volta, meu amor!` Beijei a cabeça de Diego e saímos de casa.
O silêncio durou não só o caminho todo até a Starbucks, mas também enquanto comíamos, olhávamos em todas as direções possíveis evitando que nossos olhares se encontrassem.
`Ok, eu ouvi sua conversa com a Soph.` Falei quebrando o silêncio.
`É, eu imaginei.` Arthur respondeu imediatamente e eu o olhei. Ele suspirou e desviou o olhar para o prato vazio que estava em sua frente.
`Arthur.` Falei sugestiva arqueando a sobrancelha e ele me olhou pensativo.
`Ok, você venceu!` Eu me ajeitei na cadeira me preparando pra ouvir o que ele queria dizer. `Minha mãe me ligou alguns dias atrás, ela quer fazer um jantar pra comemorar, sábado faz um ano que eu saí do hospital.` Ele me olhou esperando uma resposta e eu pensei por alguns segundos.
`Hm... sábado, você quer dizer... daqui a três dias?` Arqueei a sobrancelha e ele confirmou evitando meu olhar. `Arthur, quando diabos você pretendia me contar isso? Três dias é praticamente... amanhã.` Falei baixo.
`Desculpa.` Ele tentou segurar minha mão que estava em cima da mesa, mas eu a puxei num reflexo, o fazendo suspirar profundamente e recolher a mão. `Eu sabia como você ia reagir, eu estou tentando te falar isso a dias, mas sempre acabo desistindo de te ligar. Eu sei que você não tá pronta.` Ele falou baixo me olhando e eu suspirei.
`Arthur, com a Katia aqui a gente vai ter que fingir que nunca houve nada.` Olhei pra minhas mãos apoiadas em meu colo. `Eu não sei se consigo.` Falei sincera. Katia nunca soube de nada que houve entre mim e Arthur, ela ainda acha que nós somos o casal queridinho dela e que somos totalmente felizes morando juntos com nosso filho.
`Olha, eu queria contar pra ela o que aconteceu.` Eu o olhei assustada. `Em partes!` Ele completou. `Mas ela me ligou completamente animada, disse que mal pode esperar pra te ver e pra ver o Diego. Eu... eu não consegui contar a verdade pra ela, e nem acho que vou conseguir.` Ele suspirou.
`Nem eu.` Admiti.
`Lu, por favor, faz isso pela minha mãe. Eu não quero que você me perdoe e nem que esqueça o que aconteceu, é só...` Ele suspirou. `Vai ser só esse fim de semana. Ela chega no sábado e domingo já vai embora.`
`Eu vou... tentar.` Falei baixo. `É melhor a gente ir logo.` Falei encerrando o assunto.
`Então, já resolveu se vai amanhã?` Sophia me perguntou enquanto caminhávamos para fora do campus da faculdade. Já era sexta feira, o tal jantar que Katia estava organizando seria na noite seguinte e eu ainda não estava totalmente convencida de que conseguiria fazer aquilo.
`Ainda não`. Suspirei observando as pessoas passarem por mim.
`Eu sei que é difícil, mas você não quer nem tentar?` Ela me olhou e eu balancei a cabeça negativamente.
`Não sei se consigo, Soph. Quer dizer, eu tenho medo do mínimo toque dele, entende? Eu tento evitar isso, mas toda vez que ele se aproxima de mim eu me encolho ou faço qualquer outra coisa pra não encostar nele.` Lembrei de quando Arthur tentou segurar minha mão na Starbucks e eu a tirei de cima da mesa num reflexo.
`Você pode me levar na casa do Micael?` Sophia mudou de assunto quando chegamos perto do meu carro e eu balancei a cabeça concordando.
Durante todo o caminho ela ficou quieta olhando para fora da janela como se pensasse em algo pra falar. Não era muito normal Sophia ficar calada, ainda mais dentro do carro, nem o som ela ligou. Suas mãos quando não ficavam ajeitando o cabelo estavam batucando o caderno em seu colo. A observei de canto de olho e vi que ela mordia o lábio, ela certamente queria falar alguma coisa, só não sabia como.
`Tá entregue, madame.` Brinquei e ela sorriu fraco sem nem fazer menção de sair do carro.
`Você vai pra casa agora?` Ela perguntou se virando de frente pra mim.
`Vou pegar o Diego na escola e depois vou pra casa sim, por quê?` Arqueei a sobrancelha e ela suspirou ficando calada por alguns segundos.
`Quer subir? É rápido prometo, e os meninos não estão aí, eles foram ensaiar na casa do Pedro!` Ela juntou as mãos como se implorasse e eu bufei.
`Ok, mas eu realmente não posso demorar, Soph, eu tenho que...`
`Vamos logo!` Ela soltou do carro e me deixou falando sozinha.
`Sophia, você tá me deixando aflita!` Falei quando ela abriu a porta do apartamento de Micael. Fomos todo o caminho até lá em silêncio, e duas vezes ela tentou falar alguma coisa, mas desistiu.
`Hm, ok ok! Eu te trouxe aqui porque eu preciso te mostrar uma coisa!` Ela falou hesitante e eu arqueei a sobrancelha. `Ai céus, se o Arthur descobrir que eu fiz isso ele me mata!` Ela falou juntando as mãos e olhando pra cima.
`O que o tem o Arthur com isso, Soph?` Perguntei sem entender nada e ela suspirou tomando coragem.
`Vem comigo!` Ela pegou minha mão e me guiou até o ultimo quarto no corredor, provavelmente o que Arthur estava ficando já que estava bagunçado e algumas roupas dele estavam espalhadas pela cama. `Ontem quando eles saíram para o ensaio eu resolvi tentar arrumar os quartos, tanto o do Micael quanto esse. E bem... eu acabei encontrando umas coisas.` Ela foi até o criado mudo e abriu uma gaveta tirando alguns papéis com cuidado.
`Soph, se o Arthur descobrir que você tá mexendo nas coisas dele, você é uma mulher morta, ele odeia isso.` Falei olhando para a porta do quarto como se Arthur fosse aparecer ali a qualquer minuto.
`Eu sei, caramba! Mas eu preciso te mostrar isso!` Ela levantou um papel amassado e gasto.
`Hm... e o que seria isso?` Perguntei quando ela estendeu o papel pra mim.
`Pega, lê você mesma!` Ela sacudiu o papel e eu hesitei um pouco antes de pegar.
O papel amassado tinha várias coisas rabiscadas, era até um pouco difícil entender as coisas escritas. Passei os olhos pelas linhas até focalizar minha visão no que parecia o começo de uma musica.
"Yesterday you asked me that something I thought you knew
So I told you with a smile, it`s all about you
Then you gave me whispered in my ear and you told me too
Said you make my life worthwhile, it`s all about you
And I would answer all your wishes if you asked me to
But if you try to deny me one of your kisses don`t know what I`d do
So hold me close and say those things three words like you used to do
Kissing in the Dancing on the kitchen tiles, it`s all about you"
Eu não sei como começar essa carta, aliás eu nem sei porque eu to escrevendo. Você deve estar me achando um bandido, mau caráter, e eu sei que mereço isso e muito mais. Eu mereço ser ignorado por você e mereço que você me odeie pra sempre, eu sou um covarde por ter feito aquela monstruosidade com você, sou um covarde por estar tentando escrever essa carta imaginando mil maneiras de te pedir desculpas quando na verdade eu sei que o que eu fiz foi imperdoável.
Eu só queria que você soubesse que eu vou me castigar até o ultimo dia da minha vida por ter te machucado tanto. Nada do que eu diga vai apagar as lembranças que você deve ter daquela maldita noite e nada vai fazer com que eu me sinta no direito de sequer tocar você de novo. Você e o Diego são as coisas mais preciosas que existem na minha vida, e magoar vocês é magoar a mim mesmo.
Eu não sou merecedor de qualquer sentimento bom que você tenha por mim, por mais que eu seja completamente goste de você, e por mais que eu ache que eu nunca vou encontrar alguém como você, eu espero que você encontre um cara que te mereça de verdade e que nunca seja capaz de sequer levantar um dedo pra você.
Eu só queria poder estar presente na sua vida e na vida do Diego, mesmo que seja de uma forma mais afastada. Eu honestamente não sei o que seria da minha vida sem vocês dois. Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria no dia do seu aniversário e teria te falado tudo que eu queria, mesmo se você tentasse me impedir. Eu teria deixado claro o que eu sinto por você desde lá, e queria que você nunca duvidasse disso. Mas nós não somos o que costumam chamar de casal comum, certo? Talvez a gente goste de sofrer um pouco.
All About You é o nome dessa musica. Eu gostei dela, me trás boas recordações, no dia em que você a ouvir, você vai saber quais são essas recordações.
Se algum dia você chegar a ouvi-la, então irá que saber que você foi a pessoa que eu mais...
Virei o papel tentando encontrar a continuação, mas não tinha nada na folha de trás, apenas alguns rabiscos. Virei novamente tentando encontrar a continuação ali mesmo naquela página, mas existiam apenas alguns borrões e coisas apagadas.
`A pessoa que eu mais?` Perguntei atônica olhando pra Sophia e ela deu de ombros levemente. Levei minha mão livre até a boca e a cobri só então percebendo que algumas lágrimas rolavam por meu rosto. `Eu sou... All About You... eu e o Diego...` Eu repetia as palavras dele sem conseguir encontrar nexo algum.
Sophia sentou ao meu lado e segurou meu braço com força me puxando de volta pra realidade me fazendo olhar para seu rosto que tinha um leve sorriso.
`É tudo sobre você, Lu!` Ela falou meigamente me fazendo sorrir. `Nunca existiu Perola e nem nenhuma outra garota, sempre foi você pra ele e só.` Senti meu coração disparar com as palavras dela e olhei novamente o papel amassado em minha mão.
`Porque ele nunca me mandou isso? Digo, tem mais de três meses...`
`De fato ele é um covarde, amiga!` Ela brincou e nós rimos.
Suspirei profundamente antes de cairmos em um silêncio assustador. Eu sentia minha mão que segurava a carta tremer enquanto minha cabeça girava ecoando as palavras de Arthur e mais uma vez sua frase inacabada, ao menos dessa vez a culpa não era minha e eu daria de tudo pra saber o que ele diria, pra saber se eu sou a pessoa que ele mais.... amou? Meu coração chegou a parar só com a possibilidade de ser realmente essa a frase incompleta.
`Céus, eu preciso pegar o Diego!` Falei acordando completamente para a realidade quando ouvir o relógio apitar. `Toma, guarda isso direito, se o Arthur desconfiar a gente tá ferrada!` Dei a carta pra Sophia e ela correu para colocá-la novamente na gaveta.
`E agora, o que você vai fazer?` Ela me olhou com a sobrancelha arqueada e eu balancei a cabeça.
`Não sei ainda, eu... preciso pensar, absorver tudo isso que ele falou.` Ela concordou silenciosamente e mandei beijos no ar saindo rapidamente do quarto e do apartamento.
Peguei Diego na escola e a primeira coisa que ele perguntou era se ia ver o pai. Eu tive que explicar pra ele que naquele dia não, mas talvez no dia seguinte fossemos a uma festa. Em todo o caminho da casa de Micael até a escola de Diego, e de lá até em casa, não houve um segundo em que eu não pensasse na carta de Arthur. As palavras ficavam zumbindo em minha cabeça, era como se eu pudesse ouvi-lo dizer tudo aquilo.
`Mãe, to com fome!` Foi a primeira coisa que Diego disse ao chegarmos em casa.
`Espera um pouco, meu amor, a mamãe vai ligar pra Kat e já faz nosso almoço, tá bem?` Sorri e ele concordou balançando a cabeça enquanto corria pro quarto pra guardar o material da escola. Depois de ligar para a babá do Diego pedindo que ela não se atrasasse, troquei de roupa e encarei o telefone em cima da minha cama. Hesitei alguns segundo antes de pegá-lo e digitar aqueles números que eu sabia de cor.
`Sophia, eu vou amanhã!`o sei como come
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