‘Amanhã tem ensaio?’ Perguntei enquanto ele passava o braço por trás de
mim e me abraçava pela cintura, encolhi minhas pernas e encostei minha
cabeça em seu peito.
‘Tem, só de tarde.’ Ele suspirou e eu balancei a cabeça concordando. ‘Eu
posso levar o Diego comigo!’ Ele sorriu animado e eu o olhei.
‘Ai céus, vocês quatro e meu pobre filho, não quero nem imaginar.’ Rolei
os olhos e Arthur deu língua. ‘Toma cuidado, Arthur, não se distrai,
não deixa ele fazer as coisas sozinho e...’
‘Lu!’ Ele me interrompeu. ‘Eu sou tão péssimo pai assim?’ Ele levantou a sobrancelha e eu ri.
‘Claro que não, bobo!’ Dei um selinho nele. ‘Eu que sou preocupada
demais, desculpa.’ Sorri fraco e ele balançou a cabeça concordando.
‘Já imaginou o Diego daqui a uns 15 anos?’ Arthur perguntou de repente
observando Diego brincar. Fiquei algum tempo em silêncio também
observando nosso filho.
‘Ná, não gosto de pensar nisso.’ Dei de ombros. ‘Tenho medo do futuro.’
Falei baixo, mais pra mim mesma do que pra ele, porém Arthur ouviu.
‘Medo, Lu?’ Ele perguntou passando a mão por minha cabeça.
‘Prefiro viver o presente, sem ter que ficar imaginando o futuro.’ Falei ainda com a cabeça encostada no peito dele.
‘E o que tanto te assusta no futuro?’ Ele perguntou calmamente.
‘Não sei.’ Dei de ombros e fiquei um tempo pensando. ‘Ver Diego crescer,
ficar independente, sair de casa e formar a família dele, tenho medo de
que algum dia eu fique ausente na vida dele. Medo de perder as pessoas
que eu amo e que são essenciais pra mim, eu posso deixá-las escapar
entre meus dedos, num piscar de olhos.’ Falei essa ultima parte pensando
mais em Arthur do que em qualquer outra pessoa. ‘Eu posso dormir com
você e Diego do meu lado, e no outro dia amanhecer sem vocês.’ Encostei
meu queixo no ombro de Arthur exalando o perfume que vinha do seu
pescoço. Ele balançou a cabeça em negação e pegou minha mão entrelaçando
nossos dedos.
Um vento frio passou fazendo com que eu me encolhesse e botasse as mãos
no bolso do casaco, deitei minha cabeça no ombro de Arthur novamente e
ele me puxou mais pra perto me apertando mais em seus braços.
“ As long as you're alive , here I am
( Enquanto você estiver viva aqui estou eu )
I promise I will take you there
( Eu prometo que eu a levarei lá ) ”
Arthur cantou baixo The Taste Of Ink do The Used, e eu sorri suspirando.
“ And won't you think I'm pretty
( E você não acha que eu sou bonito )
When I'm standing top the bright lit city
( Quando eu estou de pé no topo da brilhante e iluminada cidade )
And I'll take your hand and pick you up
( Eu vou pegar sua mão e encontrar você )
And keep you there so you can see
( E deixar você lá para que você possa ver )
As long as you're alive and care
( Enquanto você estiver viva e se importer )
I promise I will take you there
( Eu prometo que eu a levarei lá )
As long as you're alive and care
( Enquanto você estiver viva e se importer )
I promise I will take you there
( Eu prometo que eu a levarei lá ) ”
Eu o ouvia cantar baixinho e pensava em como o tempo estava passando
rápido. Já faziam seis meses que Arthur tinha saído do hospital, Diego
já tinha completado três anos, em pouco tempo eu faria vinte. Se eu
pudesse parava o tempo e o deixava bem ali, eu queria sempre me sentir
assim, feliz e protegida. Ver meu filho brincar e ser abraçada pelo cara
que eu amo, queria poder ter a certeza de que no futuro isso não iria
mudar.
Eu achava incrível a forma como Arthur me fazia sentir, mais incrível
ainda o fato dele estar sendo tão carinhoso comigo, eu me sentia amada
do lado dele. Eu não sabia se ele realmente me amava ou se aquilo era
apenas porque ele ainda não tinha saído e conhecido outras garotas, era
estranho pensar que em pouco tempo ele já conseguia me amar.
Às vezes eu acho que nunca houve acidente nenhum, apenas uma lavagem
cerebral no Arthur, que fez com que ele resolvesse olhar apenas pra mim e
parar de sair com outras garotas.
Lembrei do que ele disse um pouco depois de sair do hospital; “eu te
conheço há duas semanas, mas sinto como se te conhecesse da vida
inteira. Eu sinto como se conseguisse te decifrar perfeitamente, como se
eu te conhecesse melhor do que ninguém...”. Sorri lembrando da forma
como ele disse isso e desisti de tentar entender aquilo tudo, talvez
fosse algo muito além de qualquer coisa que pudesse ser explicada.
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