Capitulo 23
‘Boa noite, John!’ Cumprimentei o porteiro sorrindo e subi o elevador me escorando na parede. Estava chegando cada dia mais tarde do estágio, mal tinha tempo pra estudar e na próxima semana teria várias provas na faculdade, ainda bem que era sexta feira, iria aproveitar o fim de semana pra comer livros.
Entrei em casa sentindo um alivio e uma alegria enorme, Rodrigo estava desenhando sentado no chão da sala e eu me sentei ao seu lado.
‘Olha o dágão!’ Ele falou apontando pra um desenho e eu ri.
‘Nossa, que dragão lindo, meu amor!’ Falei pegando o papel. ‘E isso aqui, é o que?’ Perguntei apontando outro papel que estava por ali.
‘É o leão!’ Ele sorriu.
‘Aaah, desse jeito você vai virar um pintor, príncipe!’ Falei olhando os outros desenhos espalhados pelo chão da sala. ‘A mamãe vai tomar um banho e já vem, tá bom?’ Dei um beijo na cabeça dele e o deixei na sala.
Quando entrei no quarto senti um perfume e sorri instantaneamente. Se algum dia eu quisesse ficar chapada, sem duvidas usaria o perfume do Arthur para isso. Quando passei pela porta do banheiro o vi arrumando o cabelo em frente ao espelho, estava arrumado, com uma calça escura, uma camisa vermelha e um casaco bege com o zíper aberto. Mordi o lábio desviando minha atenção e fui até o armário pegar uma roupa.
‘Hey!’ Ele falou saindo do banheiro e eu sorri fraco. ‘Como você consegue fazer meu cabelo ficar daquele jeito?’ Ele passou a mão pelo cabelo bagunçando-o. Arthur sempre acabava me pedindo pra arrumar o cabelo dele, ele dizia que só eu conseguia arruma-lo do jeito certo.
‘Vem aqui.’ Falei apontando pra cama e ele se sentou. Comecei a passar a mão pelo cabelo dele arrumando-o como Arthur gostava. Ele mantinha os olhos fechados e um sorriso no canto da boca que me fez sorrir sem querer. ‘Pronto.’ Falei ajeitando o capuz do casaco dele.
‘Brigada.’ Ele sorriu e eu balancei a cabeça.
‘Eu vou tomar banho, olha o Rodrigo lá na sala?’ Pedi entrando no banheiro e ele concordou saindo do quarto.
Saí do banho minutos depois ouvindo uma voz masculina na sala, e não era a de Arthur. Penteei meu cabelo e fui até a sala encontrando Pedro sentado no sofá brincando com Rodrigo.
‘Hey, Pedro!’ Sorri dando dois beijinhos em suas bochechas.
‘Iai, Lu, tudo bem?’ Ele perguntou enquanto eu sentava na poltrona encolhendo as pernas e abraçando os joelhos, eu sorri confirmando e ele voltou a brincar com Rodrigo. Estava tão arrumado quanto Arthur, provavelmente iriam pro mesmo lugar.
‘Arthur, não é melhor a gente pegar um táxi?’ Pedro perguntou rindo quando Arthur saiu da cozinha. Ele apenas deu um pedala no amigo e eu nem desviei o olhar da televisão. ‘É sério, dude, eu não garanto que eu consiga dirigir na volta.’ Falou ainda rindo.
‘Vamos logo, cara.’ Arthur bufou.
‘Vamos!’ Pedro respondeu animado. ‘Tchau, Rodrigo!’ Ele botou Rodrigo no sofá novamente e me deu um beijo na cabeça. ‘Tchau, Lu, se cuida!’
‘Tchau, Pedro!’ Sorri fraco.
Olhei pra Arthur na porta e ele me lançou um olhar que eu não saberia dizer se era de culpa ou de decepção. Levantei a mão num aceno breve e ele sorriu fraco fechando a porta em seguida.
‘Mulheres!’ Ouvi a voz de Pedro vinda do corredor.
‘Sh, pára dude!’ Arthur falou no mesmo tom e joguei uma almofada na porta com vontade de xingar os dois.
Fiquei algum tempo na sala com Rodrigo, até ele adormecer. Pensei em assistir tv, mas lembrei das provas que teria na semana seguinte e fiquei na sala lendo o livro, ou melhor tentanto ler o livro. Tentei sentar com as pernas cruzadas, com as pernas esticadas, deitei de barriga pra cima, de barriga pra baixo, me apoiei nos cotovelos, mas nada adiantava. Eu lia uma pagina e quando chegava no final percebia que tinha passado o tempo todo imaginando onde Arthur estava e principalmente com quem ele estava. Bufei deixando o livro no sofá e abracei minhas pernas encostando a cabeça nos joelhos.
‘A culpa disso tudo é sua, só sua Lua. Arque com as conseqüências de suas besteiras, sua lerda, idiota!’ Falei em voz alta como se tivesse conversando com alguém.
Tinha vontade de gritar, mas já eram quase meia noite e eu provavelmente seria xingada por toda vizinhança, além de acordar meu filho. Fui até a cozinha, peguei um pote de Nutella e uma colher, e voltei pra sala sentando no sofá e ligando a tv.
‘Isso, agora se entope de chocolate e vira logo uma baleia. Quem sabe assim o Arthur não te dá um chute de uma vez.’ Falei novamente conversando comigo mesma.
Fiquei vendo algum seriado idiota e adolescente até quase acabar o pote inteiro de Nutella. Fiz careta olhando o pote quase vazio e o guardei na geladeira. Voltei pra sala e continuei assistindo qualquer coisa que passava na tv e eu nem ao menos sabia o que era. Olhei pro livro jogado no canto do sofá e respirei fundo desligando a tv.
‘Concentre-se, Lua. Você consegue!’ Falei sorrindo e abri o livro novamente.
Depois de algumas, talvez muitas, tentativas frustradas eu finalmente consegui me concentrar um pouco.
Ouvi um barulho no hall e corri pra porta olhando pelo olho mágico. Ao invés de ver Arthur, apenas os vizinhos conversavam antes de entrar no apartamento da frente. Bufei frustrada e me torturando por estar tão nervosa e ansiosa.
Fiquei alguns minutos, que mais pareceram horas, tentando novamente me concentrar no livro, mas dessa vez nada deu certo. Me levantei irritada e fui pro quarto.
Guardei o livro e deitei na cama abraçando o travesseiro de Arthur, nem tive tempo de pensar em nada e no segundo seguinte já estava chorando e abafando os soluços no travesseiro. Olhei pro puff no canto do quarto e vi o urso enorme que Arthur tinha me dado de aniversário, senti uma pontada no peito que só fez meu choro aumentar ainda mais.
‘Saaaaaco!’ Dei um grito abafado por causa do travesseiro. ‘Porcaria de vida que mais parece uma novela mexicana!’ Falei encarando o teto.
‘Lu, essa aqui é a Rachel, minha nova namorada.’ Arthur sorriu de mãos dadas com a ruiva. Senti meu peito ser esmagado e meus olhos encherem de lágrimas.
‘Ai, Arthur, agora eu sou madrasta do Rodrigo, tenho certeza que serei como uma mãe pra ele!’ Rachel falou com um sorriso vitorioso no rosto e eu tinha vontade de gritar, mas não conseguia.
Olhei pros lados procurando Rodrigo, mas não consegui enxergá-lo em lugar nenhum. Quando olhei novamente pra frente vi Rachel com Rodrigo no colo e Arthur com Jessy em seu colo.
‘Rodrigo!!’ Tentei andar até eles, mas os quatro pareciam cada vez mais longe. ‘Rodrigo!!!’ Eu gritava, mas não parecia sair nenhum som de minha boca. Os quatro sorriam como uma família feliz e Rodrigo abraçava Rachel.
‘NÃO!!’ Gritei sentando rapidamente na cama. Minha respiração era pesada e eu estava suando apesar de estar frio. Passei a mão pelo rosto olhando em volta e vi que estava sozinha em meu quarto.
Fiquei alguns minutos sentada encarando o breu na minha frente e tentando regular novamente a respiração. Me levantei ainda um pouco assustada com o sonho, ou melhor, o pesadelo e fui até o banheiro passar uma água no rosto. Fiquei encarando minha imagem no espelho durante alguns minutos, até fazer uma careta e voltar pro quarto.
Deitei novamente na cama tentando esquecer aquela droga de pesadelo, virei de lados diversas vezes, tentei abraçar o travesseiro do Arthur pra ver se dormia mais rápido, mas nada deu certo.
Peguei o laptop e entrei em algum site de fofocas, quem sabe lendo algumas fofocas cabeludas de algum artista eu não esquecia um pouco do Arthur, da Rachel ou de qualquer outra coisa. Achei que fosse encontrar um super babado em algum site, mas tudo que eu via me parecia inútil.Fechei as janelas da internet e resolvi jogar pinball pra tentar me distrair, a essa altura eu já não tinha sono nenhum, parecia que eu tinha acabado de acordar um sono de pelo menos vinte horas.
Minha vista já estava cansada e minha cabeça começava a doer, resolvi desligar o laptop e ir até a cozinha tomar um copo de leite, isso nunca realmente me deu sono, mas quem sabe era meu dia de sorte. Ri sarcasticamente do meu pensamento idiota. Sorte... essa palavra foi abolida do meu dicionário a alguns anos!
Deixei o leite esquentar durante alguns minutos e fui no quarto novamente pegar o livro, não custava tentar estudar um pouco.
Botei o leite em uma caneca e fui sentar na grande poltrona que tinha na sala, ela era completamente aconchegante e ideal pra estudar. Encolhi as pernas sentindo frio e comecei a minha tentativa de estudar. Dessa vez não demorou tanto pra eu conseguir me concentrar nas pequenas letrinhas que me seriam úteis algum dia.
Estava tão absorta no livro que só percebi a chegada de Arthur quando ele já estava entrando em casa.
‘Ainda acordada?’ Ele me olhou estranho. Aparentemente ele estava bem, mas quando chegou mais perto pude sentir o cheiro de álcool e cigarro, provavelmente estava em algum pub.
‘Prova semana que vem.’ Mostrei o livro e ele balançou a cabeça concordando. Foi até a cozinha e saiu e lá poucos minutos depois indo até o quarto.
Voltei minha atenção para o livro, mas minha concentração já tinha ido pro espaço. Respirei fundo fechando os olhos e tentei começar a ler novamente.
‘Lu!’ Ouvi a voz de Arthur e ele apareceu na sala rindo com um braço levantado. ‘Acho que fiquei preso!’ Ele ria alto um tanto quanto alterado pela bebida.
‘Cala boca, Arthur. Assim você vai acordar o Rodrigo.’ Falei me levantando e o olhando séria.
‘Desculpa!’ Ele fez aquela típica cara de inocente bêbado cheio de culpa. ‘Mas olha aqui, o casaco prendeu!’ Ele riu agora mais baixo e eu bufei chegando mais perto e constatando que o cheiro de álcool estava mais forte do que eu pensava.
‘Prendeu na costura da camisa, vem aqui.’ Falei o puxando e abaixando seu braço que ainda estava levantado. Comecei a desprender a costura do zíper, até notar duas marquinhas roxas em seu pescoço. Meu susto foi tão grande que eu deixei sair um som baixo de minha boca.
‘Que foi?’ Ele me olhou assustado.
‘Na-nada.’ Gaguejei com as mãos tremendo.
Levei vários minutos pra conseguir desprender o que normalmente faria em alguns segundos. Além das mãos que não paravam de tremer, as drogas de lágrimas insistiam em embaçar minha vista enquanto eu lutava pra que nenhuma delas caísse.
‘Pronto.’ Falei baixo quando finalmente consegui soltar a costura do zíper.
‘Brigada! Vou dormir, boa noite.’ Ele falou tirando o casaco e eu apenas balancei a cabeça ainda estática no mesmo lugar.
Levei minha mão à boca e senti uma lágrima teimosa correr por meu rosto. Minhas pernas fraquejaram e eu senti no sofá ainda olhando pro nada sem reação alguma.
Lembrei do pesadelo com a Rachel e tentei convencer a mim mesma que seria coincidência demais ele ter encontrado com a Rachel, mas e se... e se ele a tivesse chamado pra sair? E se aquelas marcas no pescoço dele tivessem sido deixadas por ela ?
Passei rapidamente a mão pelo rosto quando ouvi os passos de Arthur se aproximando.
‘Não vai dormir?’ Ele perguntou entrando na cozinha.
‘Vou.’ Falei baixo me levantando.
Peguei o livro que estava na poltrona e caminhei devagar até o quarto. Ouvi Arthur fechar a porta do quarto de hospedes já que ele só tinha resolvido dormir comigo no dia da apresentação de Rodrigo, depois disso voltou ao quarto em frente ao meu, até hoje me pergunto se aquilo tudo foi só pra me provocar.
Deitei na cama encarando teto e várias imagens de diferentes garotas beijando o pescoço de Arthur vieram em minha cabeça. Esfreguei os olhos na tentativa de afastar aqueles pensamentos, mas eles insistiam em ficar rodando em minha cabeça.
Nem sei que horas eu consegui finalmente dormir, sentindo minha cabeça latejar e o quarto girar em volta de mim.
Capitulo 24
O barulho do celular de Arthur tirou minha atenção da televisão e eu vi o aparelho na mesinha de centro.
‘Arthur, telefoone!’ Falei alto, mas não houve resposta. ‘Arthur!!’ Gritei de novo e nada. Bufei e peguei o telefone, na tela tinha escrito Anne. Estranhei, mas atendi.
‘Alô?’ Falei calmamente.
‘Hm... é do celular do Arthur?’ A voz feminina perguntou e eu confirmei. ‘Ele tá por aí?’ Ela falou ainda em duvida.
‘Não ele...’ Parei alguns instantes pensando no que falar, Arthur provavelmente estava no banho. ‘Ele saiu rapidinho, mas daqui a pouco deve voltar.’ Acabei falando.
‘Ah, tá bem! Eu ligo depois! Brigada.’ Ela desligou sem nem esperar eu responder.
“Quem é Anne?” era a pergunta que não saia da minha cabeça.
Dez minutos depois Arthur voltou pra sala só com uma bermuda e os cabelos ainda molhados. Fiquei o observando por alguns segundos ou minutos, não sei... devo ter viajado olhando pra ele, já que vi seus dedos estalarem, na frente do meu rosto e balancei a cabeça voltando ao mundo.
‘Terra chamando!’ Ele falou rindo e eu senti meu rosto arder. Se ele soubesse por que eu estava viajando certamente não estaria rindo assim e me fazendo quase viajar de novo em seu sorriso.
‘Você sabe que eu viajo às vezes.’ Falei dando de ombros e voltando minha atenção pra tv.
Rodrigo estava na escola, as aulas na faculdade terminaram mais cedo e eu voltei pra casa. O clima entre mim e Arthur pode-se dizer que já estava 90% melhor, já nos falávamos normalmente e raramente caíamos num silencio constrangedor.
Ele pegou o celular que eu tinha botado na mesinha, exatamente como estava antes e olhou alguma coisa. Senti ele me olhar de lado rapidamente e logo depois se levantou indo pro quarto. Ouvi a porta do quarto fechar e fiz careta.
Fui até a cozinha pra ver alguma coisa pra fazer pro almoço, enquanto estava olhando a geladeira Arthur entrou na cozinha.
‘Quer o que pro almoço?’ Perguntei o olhando.
‘Panquecas!’ Ele sorriu e eu confirmei pegando a massa semi pronta.
Enquanto preparava o almoço sentia o olhar de Arthur em minhas pernas já que eu estava apenas com uma camisa comprida dele. Ele estava sentado no banco com os braços apoiados na mesa e ficou me observando o tempo todo.
‘Vai pegar o Rodrigo na escola?’ Perguntei o olhando e ele levantou os olhos para meu rosto.
‘Porque você não vai?’ Ele perguntou rindo.
‘Arthur!’ Fiz manha. ‘Por favor, não custa você ir pegar!’ Falei sentando no banco do lado dele.
‘Vamos os dois.’ Ele deu de ombros.
‘Arthur, se eu to pedindo pra você ir, é porque eu não quero ir!’ Fiz cara de criança e ele riu.
‘Nada feito, vamos os dois.’ Ele sorriu vitorioso e eu bufei.
Ficamos algum tempo sentados em silêncio, até o forno apitar e eu me levantar para desligá-lo.
‘Tá pronto, se quiser almoçar antes de ir.’
‘Ná, melhor almoçar depois que a gente pegar o Rodrigo.’ Ele se levantou.
‘Errado, depois que você pegar o Rodrigo!’ Falei rindo. ‘Já disse que não vou.’ Cruzei os braços.
‘Então é melhor você começar a correr.’ Ele falou em tom de alerta e eu gritei.
‘NÃO!!’ Saí correndo da cozinha e ele veio atrás. ‘Arthur, pára!’ Falei rindo e quando fui tentar pular o sofá ele me puxou e acabou caindo por cima de mim.
‘Vamos os dois.’ Ele falou sorrindo. Acho que ainda não tinha percebido nossa proximidade.
O olhei sem reação sentindo o peso dele em cima de mim e só então ele percebeu que estava por cima de mim e nossos rostos estavam mais próximos do que deviam. Mordi o lábio vendo ele se aproximar meio em duvida, senti sua respiração em minha boca e logo depois seu nariz encostar no meu. Eu nem me movia, sentia apenas minha respiração ficar mais pesada. Quando sua boca roçou na minha e eu já tinha até fechado os olhos ele parou e me olhou um pouco assustado.
‘Erm...’ Ele saiu de cima de mim, me deixando com cara de idiota. ‘É melhor a gente ir.’ Ele passou a mão pelos cabelos sem me olhar e foi pro quarto.
Eu continuei alguns minutos estática sem entender nada. Num segundo ele parecia querer aquilo, no segundo seguinte ele parecia uma criança com medo do seu primeiro beijo. Bufei me levantando frustrada e fui pro quarto batendo a porta com força depois de entrar.
Me joguei na cama encarando o teto e fiquei lá pensando nos motivos pra Arthur ter simplesmente desistido de me beijar e agido daquela forma, ele parecia assustado com aquela proximidade.
Nas ultimas semanas ele havia saído mais que o normal, principalmente nos fins de semana, na maioria das vezes ele dizia que ia sair com os meninos, mas ainda me lembro de quando liguei pra Sophia e ela disse que Micael estava com ela... e sem o Arthur. Em outra situação eu poderia pensar que ele talvez estivesse com o Chay ou o Pedro, mas ele disse que sairia com o Micael. Achei melhor não perguntar nada, e acabei apenas esquecendo esse assunto.
Ouvi a porta de casa sendo fechada e deduzi que Arthur tinha saído pra pegar Rodrigo na escola, ele provavelmente sentiu minha frustração ao bater a porta do quarto com força.
Fiquei mais alguns minutos encarando o teto sem pensar em nada especificamente até decidir que precisava conversar com alguém.
Peguei o telefone e disquei aqueles números já tão conhecidos.
‘Oi, amiga.’ Sophia atendeu o telefone calmamente.
‘Hey, tá livre hoje?’ Perguntei já indo direto ao assunto.
‘Depende da hora. Uma hora tenho entrevista lá naquela empresa de Comunicação que eu te falei!’ Ela disse animada e eu sorri.
‘Ah, é mesmo! Espero que você consiga o estágio!’ Ela finalmente tinha tomado vergonha na cara e voltado a procurar algum estágio. ‘Então, quando eu sair do trabalho você já deve ter terminado, passo na sua casa, ok? Preciso conversar com alguém.’ Falei fazendo bico como se ela pudesse me ver.
‘Okey! Algum problema?’ A voz dela ficou preocupada e é por isso que eu digo que tenho a melhor amiga do mundo, eu nem preciso falar nada pra ela já entender tudo.
‘Só o de sempre.’ Dei de ombros e ela deu uma risadinha fraca.
‘Tudo bem, então. Me liga quando tiver vindo e a gente vai na Starbucks perto da minha casa, tá?’ Ai starbucks, nada como um bom café pra relaxar.
‘Fechado! Beijo!’ Desliguei o telefone e fui tomar banho antes que Arthur e Rodrigo chegassem.
‘Vou sair com a So .’ Falei entrando na sala onde Arthur lia alguma revista sobre instrumentos musicais. Saí mais cedo do estágio e acabei passando em casa antes de ir buscar Sophia. ‘Quer que eu chame a Kat pra ficar com o Rodrigo?’ Ele negou com a cabeça.
‘Não precisa, não vou sair.’ Ele falou sem nem tirar os olhos da revista. Senti que ele estava um pouco nervoso e nem falei mais nada, apenas saí de casa.
‘Yey, bonitinha!’ Sophia me abraçou animada a eu sorri.
‘Conseguiu?’ Arqueei a sobrancelha.
‘Acho que sim.’ Ela começou a andar e eu caminhei ao seu lado. ‘O entrevistador ficou de me ligar, mas parecia animado!’
‘Já tá na hora de arrumar um emprego, né vagal?’ Dei um pedala fraco nela que fez careta.
Entramos na Starbucks e aquele velho cheirinho de café me fez sorrir instantaneamente. Aquela lojinha era menor do que as que se encontram por Londres, e bem menos conhecida também. Era calma, um ótimo lugar pra relaxar e conversar tranquilamente. Sentamos em uma mesa no canto e fizemos logo os pedidos, quando o garçom se afastou, Sophia me olhou sugestiva.
‘Então...’ Ela apoiou os braços na mesa e ficou me olhando.
‘Basicamente...’ Falei suspirando. ‘Eu e o Arthur quase nos beijamos hoje mais cedo, mas na hora H ele fugiu como um adolescente com medo do primeiro beijo.’ Dei de ombros e ela me olhou com uma cara um pouco assustada.
‘Wow, como assim ele fugiu bem na hora?’ Ela parecia não acreditar.
‘Fugindo, ué. Simplesmente saiu de cima de mim e me deixou lá no sofá com cara de idiota e sem entender nada.’ Falei num tom um pouco desesperado e ela riu.
‘Uh, sexo selvagem no sofá, huh?’ Sophia deu um risinho tarado e eu mandei dedo.
‘Eu apenas brinquei com ele e quando ele correu atrás de mim pra revidar nós caímos no sofá com ele por cima.’ Expliquei a ela balançou a cabeça.
O garçom voltou trazendo nossos cafés e dois muffins e nós sorrimos agradecidas.
‘Nenhum motivo em especial?’ Ela perguntou tomando um gole do café e fazendo careta por estar muito quente.
‘Aparentemente não.’ Falei rindo fraco. ‘Uma tal de Anne ligou pra ele hoje mais cedo.’ Falei indiferente e Sophia se engasgou com o café. Bati nas costas dela a ajudando.
‘Ai, desculpa. Tava um pouco mais quente que o esperado.’ Ela sorriu sem graça. ‘Anne?’ Ela me olhou.
‘É. Ele tava no banho e eu tive que atender, e era essa tal de Anne, mas ela não falou nada apenas que ligava depois.’ Dei de ombros.
‘E ele não viu a chamada dela depois?’ Sophia perguntou soprando o café.
‘Acho que sim, ele olhou o celular e depois foi pro quarto.’ Ela balançou a cabeça demonstrando que tinha entendido e depois não falou mais nada, e eu esperando que ela fosse falar alguma coisa pra me acalmar. ‘Hm, então... o que você acha?’
‘Eu? Eu... eu não sei, Lu. Não tenho nada pra achar sobre essa tal de Anne.’ Ela deu de ombros, mas se eu não a conhecesse a tanto tempo diria que ela ficou um pouco nervosa.
‘Não to falando da Anne, Sophia. To falando dos motivos pro Arthur desistir bem na hora.’ Falei arqueando a sobrancelha e ela soltou um risinho fraco.
‘Ah, isso, bem... sinceramente não faço idéia!’ Ela me olhou por alguns instantes e depois voltou sua atenção pro muffin.
Resolvemos mudar de assunto e Sophia me falou como tinha sido sua entrevista pro estágio. Ficamos conversando até o celular de Sophia tocar e ela ficar alguns minutos conversando com Micael, enquanto eu terminava meu café.
‘Festinha no final de semana!’ Ela falou empolgada depois que desligou o telefone. ‘Os meninos vão tocar na festa de um amigo.’ Ela deu de ombros.
‘Ah, tá.’ Falei sorrindo fraco.
‘Que foi?’ Ela me olhou preocupada.
‘Nada, só não sei se depois do quase beijo de hoje, eu e Arthur vamos voltar ao normal... ou melhor, a como estávamos antes, né?’ Dei de ombros.
‘Claro que vão, Lu, vocês têm alguns dias até o fim de semana!’ Ela piscou sorrindo. ‘Vamos?’
‘Vamos, sim. Te levo até em casa!’ Sorri me levantando e ela fez o mesmo.
Quando cheguei em casa Arthur estava falando no celular e pareceu tomar um susto quando me viu. Sorri fraco e ele retribuiu passando a mão pelo cabelo. Rodrigo correu até mim abraçando minhas pernas e eu o carreguei até o quarto. Fiquei algum tempo lendo um livro infantil pra ele, até Arthur entrar no quarto.
‘Hey, eu vou sair rápido, ok?’ Ele sorriu fraco e eu concordei com um sorriso.
Olhei pra Rodrigo deitado ao meu lado de barriga pra cima, assim como eu. Ele me olhou e sorriu, suspirei e voltei a ler o livro calmamente e em voz alta para que ele entendesse.
Quando cheguei ao final de livro olhei pro lado e vi que Rodrigo já dormia tranquilamente. Ajeitei ele, o cobrindo e fui tomar banho imaginando aonde Arthur teria ido aquela hora e no meio da semana.
Demorei um pouco mais que o normal no banho, a água quente batendo em minha pele me fazia relaxar e esquecer de qualquer coisa à minha volta. Quando saí do banheiro vesti uma camisa comprida e velha e fui até a cozinha.
Enchi um copo com água e me sentei na bancada me perdendo em pensamentos, só fui acordar quando ouvi a porta se fechando e segundos depois Arthur entrou na cozinha se assustando um pouco ao me ver ali.
‘Hey!’ Falei botando uma mexa do cabelo atrás da orelha e ele sorriu abrindo a geladeira.
O observei enquanto ele parecia um pouco nervoso, talvez pelo silêncio, ou talvez pela minha presença.
‘Arthur’ O chamei descendo da bancada e ele me olhou. Fiquei alguns instantes encarando seus olhos até resolver falar. ‘A gente não precisava ficar assim pelo que aconteceu mais cedo. Foi apenas... foi uma coisa do momento.’ Suspirei sorrindo fraco e ele caminhou até mim.
‘Eu sei. Desculpa.’ Ele me abraçou forte e respirei seu perfume sentindo um formigamento gostoso passar por todo meu corpo. Ele deu um beijo demorado em minha cabeça e depois me soltou sorrindo. ‘Boa noite.’ Ele sorriu e beijou minha testa e eu sorri vendo-o se afastar até sumir no corredor.
Capitulo 25
O final de semana chegou mais rápido que o esperado, eu ainda estava em duvida se ia ou não na festa, já que eu mal fui convidada. Se Sophia não tivesse comentado sobre ela na presença do Arthur aposto que ele nem teria tocado no assunto e muito menos falado “você vai, Lu?” com um sorriso forçado no rosto. Ainda bem que eu já tinha desistido de tentar entender o que se passava na cabeça dele.
‘Ainda não tá pronta?’ Sophia me olhou de cima a baixo quando eu atendi a porta. Faltava menos de uma hora pra festa começar, os meninos já tinham ido desde cedo para passar o som e ajeitar os últimos detalhes.
‘Eu não sei bem se vou.’ Falei fazendo cara de criança e ela gritou.
‘CLARO QUE VAI!!’ Sophia entrou em casa batendo a porta e me puxou pro quarto. ‘Lua Blanco, vá tomar banho enquanto eu separo uma roupa. AGORA!’ Ela gritou e eu arregalei os olhos, mais um pouco e ela me engolia viva!
‘Ok, to indo, to indo!’ Dei uma risadinha sem graça e entrei no banheiro correndo. Sophia me dá medo, fato. Nem demorei muito no banho, sabia que a qualquer momento So podia esmurrar a porta e me tirar de lá pelos cabelos.
‘Escolhi essa roupa, vê se você gosta.’ Ela falou num tom completamente calmo quando eu saí do banheiro. A olhei estranhando e percebi que ela estava um pouco nervosa.
‘O que houve?’ Perguntei vestindo a calça preta justinha que ela tinha separado. Ela mexeu a cabeça negativamente sem me olhar e então tive certeza que estava acontecendo alguma coisa. ‘Sophia, o que aconteceu?’ Sentei cruzando as pernas de frente pra ela na cama.
‘Lu, eu... eu preciso te contar uma coisa.’ Ela suspirou e eu senti meu corpo inteiro gelar. ‘Espera.’ Ela se levantou e foi até a porta, fechando-a. Ela voltou a se sentar em minha frente e eu já estava até tremendo. ‘Você tá calma?’ Ela perguntou meio em duvida.
‘Sophia, fala logo antes que eu perca o resto de calma que ainda tenho.’ Falei baixo respirando pausadamente.
‘É sobre a Anne.’ Ela mordeu o lábio me olhando e eu arqueei a sobrancelha. Como assim sobre a Anne? Ela disse que nem a conhecia.
‘O que tem a tal Anne?’ A olhei franzindo a testa e Sophia respirou fundo olhando pras próprias mãos.
‘A Anne, bem, erm...’ Ela parecia medir as palavras e eu sentia meu coração ir congelando aos poucos. ‘Ela e o Arthur estão ficando.’ Senti meu coração congelar completamente, era como se todos os meus órgãos tivessem parado de funcionar e eu não conseguisse sentir nada. ‘Lu, desculpa! Eu não queria ter que te falar isso, desculpa.’ Sophia falou baixo me abraçando e eu nem me mexi, a única coisa que consegui sentir naquele momento foram as lágrimas caindo insistentemente dos meus olhos. ‘Lu, fala alguma coisa, pelo amor de Deus!’ So pediu baixo segurando meu rosto. Eu apenas balancei a cabeça e cobri meu rosto com as mãos evitando que o som do meu choro ganhasse o quarto.
Sophia me abraçou mais uma vez e ficou passando as mãos por minha cabeça como se eu fosse uma criança com medo do escuro.
‘So ...’ A chamei baixinho minutos depois. Eu estava com a cabeça em seu colo e ela brincava com meus cabelos.
‘Oi.’ Ela sorriu fraco me olhando e eu me sentei novamente de frente pra ela.
‘Você sabia disso desde aquela vez que eu comentei sobre a ligação da Anne?’ Perguntei já sabendo a resposta. Sophia confirmou balançando a cabeça.
‘Desculpa, Lu. Eu não sabia como te contar isso!’ Ela pegou minhas mãos e me olhou séria. ‘Eu ouvi sem querer uma conversa do Arthur e do Micael.’
‘Tem muito tempo... que eles tão ficando?’ Engoli seco com medo da resposta.
‘Parece que tem quase um mês.’ Ela respondeu em meio a um suspiro e eu senti uma pontada no peito.
‘Lu?’ A voz de Arthur surgiu do outro lado da porta e eu olhei assustada pra Sophia, que retribuiu o olhar da mesma forma. Peguei a blusa que estava em cima da cama e corri pro banheiro encostando a porta. Ouvi Arthur entrando no quarto e me olhei no espelho percebendo meus olhos completamente vermelhos e meu rosto inchado.
‘Ela tá no banheiro!’ So falou enquanto eu passava uma água pelo meu rosto tentando amenizar a situação.
‘Ah, ok! Eu vim só pegar uma coisa que eu esqueci.’ Silêncio por alguns minutos. ‘Bom, tenho que voltar, daqui a pouco a festa começa. Vocês querem carona?’ Abri a porta do banheiro e vi que Sophia estava abrindo a boca pra falar alguma coisa.
‘Não precisa.’ Sorri o mais falsamente que pude e Arthur me olhou estranho. ‘Eu só vou terminar de me arrumar e nós vamos, né So ?’ A olhei e percebi sua cara de espanto, mas mesmo assim ela concordou balançando a cabeça.
‘Ahn, ok.’ Arthur respondeu passando a mão pelo cabelo ainda com cara de quem não estava entendendo nada. ‘Até mais.’ Ele sorriu fraco e eu continuei com meu sorriso falso.
‘Não entendi nada!’ Sophia riu.
‘Eu não vou me render fácil assim, So . Não vou!’ Falei decidida entrando no banheiro e pegando meu kit de maquiagem. ‘Não vai ser umazinha qualquer que vai entrar no meio do meu relacionamento de mais de dois anos, não vai ser uma tal de Anne que vai roubar o cara que eu amo de mim!’ Comecei a me maquiar com uma certa raiva e ouvi as palmas de Sophia.
‘Gostei, finalmente né, tapada? Precisou ele pegar outra pra sua ficha cair!’ Ela se encostou na porta do banheiro e eu sorri.
‘Preparada?’ Sophia me olhou sorrindo quando estávamos paradas em frente à casa onde seria a festa. Eu balancei a cabeça confirmando e caminhamos pelo jardim entrando pela lateral da casa que já estava cheia.
‘Yay!’ Micael sorriu caminhando até nós duas. ‘Pensei que não viessem mais!’ Ele deu um beijo em minha testa e depois um selinho em Sophia.
‘Ná, só um pequeno atraso pra vocês sentirem nossa falta!’ Brinquei e Micael riu alto. ‘Então, que horas vocês vão tocar?’ Falei percorrendo os olhos pela casa. Meu coração estava completamente acelerado, ao mesmo tempo em que eu desejava ver Arthur por ali, tinha medo de vê-lo com a tal Anne.
‘Daqui a uma hora mais ou menos. Vocês querem ir lá pros fundos? Os meninos estão lá, eu só vim pegar bebida!’ Ele levantou uma garrafa de cerveja e nós rimos.
‘Vamos!’ So pegou na mão de Micael e entrelaçou o braço no meu sorrindo. Respirei fundo enquanto caminhávamos passando pela sala e pela cozinha da casa.
‘MULHERES!!’ Micael gritou quando chegamos ao jardim.
Olhei pra mesa e percebi que não tinha nenhuma garota por perto, apenas Arthur, Pedro, Chay e mais dois meninos.
‘Dudes, essa é a Sophia, minha namorada, e essa é a Lu!’ Ele nos apresentou para os dois garotos que sorriram. ‘Meninas, esses são James e Charlie.’ Micael apontou primeiro para um garoto de cabelos claros e um dos sorrisos mais lindos que eu já tinha visto, e depois para um de cabelo espetadinho.
Nos sentamos e ficamos observando os meninos conversarem animados sobre alguma musica que eles estavam escrevendo. Olhei rapidamente pra Arthur que por coincidência, ou não, me olhou na mesma hora. Ele sorriu fofo e eu pra variar sorri também, odeio nunca resistir ao sorriso dele.
‘Hm, parece que o tal James gamou em você!’ Sophia me olhou sorrindo e eu olhei sem entender. Ela discretamente indicou com a cabeça para o garoto que estava logo na minha frente e eu vi que ele sorria pra mim. Senti meu rosto queimar e sorri fraco completamente sem graça.
‘Vamos pegar alguma coisa pra beber?’ Me virei pra Sophia e ela concordou.
‘Tá fugindo do bonitinho é?’ Sophia me cutucou quando entramos na cozinha.
‘Pra quê eu iria fugir? Seria mais prático eu dar mole pra ele e ver se o Arthur fica com ciúme.’ Dei de ombros.
‘Claro que fica. Ele te ama!’ So falou pegando duas cervejas no freezer.
‘Ah sim, ama tanto que tá ficando com outra. Que singela essa forma de demonstrar que me ama!’ Fiz uma cara idiota e ela riu. ‘Por sinal, de quem é essa festa?’ Perguntei percebendo que estava na casa de um completo estranho e nem sabia quem estava dando a festa.
‘Do irmão da Anne.’ Sophia sorriu sem graça e eu engasguei com a cerveja. Ela correu pra bater em minhas costas e eu senti meu olho arder.
‘Como assim eu to na festa do irmão da minha suposta concorrente?’ Eu praticamente gritei recebendo olhares estranhos de algumas poucas pessoas que estavam por ali.
‘Sh, cala boca, demente!’ Sophia me deu um pedala. ‘Eu só soube disso hoje também. Que seja, vamos voltar pra mesa.’ Ela me puxou pelo braço antes que eu conseguisse dizer mais alguma coisa.
Quando estávamos nos aproximando da mesa eu puxei o braço de Sophia com força e ela me olhou sem entender. Apontei discretamente pra mesa onde uma garota de cabelos escuros conversava com Arthur, os dois sorriam e pareciam estar alheios a conversa que os outros meninos estavam tendo na mesa.
‘Eu não sei se consigo.’ Falei baixo sem desviar os olhos dos dois e So pegou minha mão.
‘Claro que você consegue. Com quem o Arthur tem um filho, Lu?’ Ela me olhou séria e eu fiquei calada. ‘Com quem, Lua?’ Ela perguntou de novo.
‘Comigo.’ Falei baixo.
‘Quem é a garota que ele diz ser a mamãe mais linda?’
‘Eu.’ Abri um pequeno sorriso no canto da boca.
‘Pra quem ele deu um urso enorme segurando um coração?’
‘Pra mim.’ Sorri fraco e Sophia apertou minha mão.
‘Ops, três à zero pra você, acho que essa Anne já era!’ Ela piscou e saiu andando de volta pra mesa me deixando lá sorrindo que nem uma idiota.
Respirei fundo e caminhei até a mesa ainda sorrindo. Quando sentei percebi o olhar dos meninos em mim, não o do James e o Charlie porque eles nem deviam saber da historia toda, masMicael, Chay, Pedro e principalmente Arthur me olhavam nervosos. A suposta Anne nos olhou sorrindo e eu forcei um sorriso, assim como Sophia.
‘Hey!’ Ela falou simpática e eu tive que me controlar pra não mandá-la pra um lugar feio.
‘Erm... Anne’ Micael a chamou e ela desviou a atenção pra ele. ‘Essa é a So , minha namorada, e essa é a Lu!’ Mãe do filho do Arthur, fiquei com vontade de dizer, mas em boca fechada não entra mosca.
‘Ah, prazer conhecer vocês!’ Ela estendeu a mão e eu me vi obrigada a cumprimentá-la. ‘Eu sou Anne, irmã do aniversariante.’ Ela sorriu.
‘Prazer, Anne.’ Sophia sorriu. Um dia vou aprender a dar um sorriso falso tão convincente quanto o dela.
Depois da apresentação ela se virou novamente pra Arthur e voltou a conversar animadamente com ele. Vez ou outra eu os observava de canto de olho e via que Arthur fazia o mesmo comigo.
Poucos minutos depois os dois de levantaram sem falar nada e foram pra dentro da casa. Acompanhei os dois caminharem pelo jardim e cada passo que eles davam era como se eu recebesse uma pontada no peito. Olhei pra So e Micael e os dois me olhavam como se entendessem perfeitamente o que eu estava sentindo, eu sorri fraco e dei um gole na cerveja que praticamente esvaziou a garrafa.
‘Lu, pára de descontar as frustrações na bebida!’ Sophia falou tirando a quarta ou quinta garrafa de cerveja da minha mão.
‘Me deixa, Sophia.’ Falei cruzando os braços e fazendo bico como uma criança. Eu já podia ser considerada como bêbada, fato.
‘Bom, tá na hora do show!’ Micael se levantou animado e eu e So fizemos o mesmo. “Wow!’ Micael riu quando eu desequilibrei e ele teve que me segurar.
‘Eu to bem!’ Sorri sem graça ajeitando a blusa, mas o principio de tontura me dizia o contrario. Micael pegou Sophia pela mão e os dois foram na frente. Eu tive que me agarrar no braço doChay, caso contrario iria parar no mínimo na casa do vizinho.
‘Chay!’ Falei um pouco animada demais e ele riu. ‘Cadê a Ash?’ Voltei ao meu tom de voz normal.
‘Ela teve que ir até Manchester, parece que teve algum problema com o irmão dela, não sei direito.’ Ele deu de ombros e eu concordei silenciosamente.
Quando entramos na casa eu vi Arthur já perto do palco conversando com um casal e Anne ao seu lado. Ele mantinha um dos seus braços a abraçando pelos ombros e ela o abraçava pela cintura. Respirei fundo sentindo os olhos já arderem por causa das lágrimas e apenas desviei o olhar para um canto qualquer da casa. Chay, Pedro e Micael me deram beijos na testa e eu os desejei boa sorte.
‘So , eu vou ao banheiro rapidinho.’ Sorri e ela me olhou preocupada.
‘Quer que eu vá com você?’
‘Não, não precisa, é rápido!’ Nem esperei ela falar nada e corri pra procurar algum banheiro na casa. Acabei achando um no segundo andar, após abrir umas três portas.
Me encostei na porta e escorreguei até ficar sentada no chão, as coisas ao meu redor estavam girando e eu estava começando a ficar enjoada. Ouvi alguns gritos no andar de baixo e supus que o show já ia começar.
Levantei respirando fundo e me apoiei na bancada fechando os olhos na tentativa de fazer a tontura passar. Prendi meu cabelo em um nó frouxo e abri a torneira molhando uma mão com a água gelada que jorrava. Molhei um pouco meu pescoço sentindo os cabelos da nuca arrepiarem por causa da temperatura. Fiquei alguns segundos na mesma posição sentindo algumas gotas escorrerem por minhas costas enquanto a tontura ia passando aos poucos.
‘Lu?’ Ouvi uma voz do lado de fora e abri a porta me assustando ao ver Arthur ali. ‘Tá tudo bem?’ Ele perguntou com um ar preocupado e as mãos no bolso.
‘Tá sim!’ Sorri fraco passando a mão pelo cabelo e soltando o nó para tentar melhorar minha aparência de chifruda bêbada.
‘A Sophia falou que você não parecia muito bem e que exagerou na bebida.’ Ele sorriu fraco.
‘Ah, ela que exagerou na preocupação.’ Respondi pensando em várias formas de tortura pra So , como ela falava pro Arthur que eu tinha bebido demais? Vaca. ‘Você não tem um show agora?’ Quebrei o silêncio que provavelmente se instalaria por ali.
‘Erm... tenho!’ Ele sorriu e adivinha só? Eu sorri também. ‘Mas eu precisava vim ver se tava tudo bem com você!’ Nessa hora eu quase esqueci de qualquer briga, Anne ou qualquer outra coisa entre a gente e me joguei nos braços dele.
‘Tá tudo bem, Arthur.’ Ele me olhou desconfiado. ‘É sério! Vai lá pro seu show.’ Apontei as escadas com a cabeça.
‘Ok, você vem né?’ Confirmei com um sorriso fraco e ele me abraçou.
‘Boa sorte.’ Falei baixo sentindo aquele perfume intoxicante me deixar mais tonta do que já estava.
‘Brigada!’ Ele me deu um beijo na testa e sorriu correndo pelas escadas até sumir da minha vista.
Quando finalmente resolvi descer o show já tinha começado, caminhei entre as pessoas animadas, ou bêbadas, como preferirem, até avistar Sophia ao lado de James e Charlie.
‘Hey, já ia subir pra ver se você ainda tava viva.’ Ela me olhou preocupada.
‘Não basta mandar o Arthur atrás de mim?’ Falei séria.
‘Ei, eu não mandei ele atrás de você, ok? Ele que perguntou onde você estava, eu apenas falei a verdade!’ Ela deu de ombros ofendida. Pra que droga Arthur queria saber onde eu estava? Ele que ficasse atrás da Anne. Não respondi nada a Sophia, apenas fiquei prestando atenção no show.
Depois de cantarem quatro musicas deles mesmo, os meninos resolveram fazer covers de musicas antigas. Quando eles começaram a tocar Beatles vários casais começaram a dançar improvisando uma pista de dança bem na frente do pequeno palco também improvisado. ( I Wanna Hold Your Hand - McFLY )
“Oh yeah, I'll tell you something,
( É, eu vou lhe dizer uma coisa )
I think you'll understand
( Acho que você vai entender )
When I'll say that something
( Quando eu disser o que é )
I wanna hold your hand
( Eu quero segurar sua mão )”
‘Quer dançar?’ Ouvi uma voz atrás de mim e quando me virei dei de cara com um James sorridente. Aliás, alguém precisa avisar que caras com sorriso extremamente lindo não deveriam sair por aí matando as outras pessoas.
‘Hm, porque não?’ Como se tivesse como resistir ao sorriso dele. Ok, acho que o alcool ainda estava circulando em alta pelo meu sangue.
James pegou minha mão e fomos pro meio da pista onde vários casais dançavam animadamente.
Começamos um pouco tímidos, mas quando dei por mim já estava rodopiando sem nem me importar com as pessoas ao meu redor.
“And when I touch you I feel happy inside
( E quando eu te toco me sinto feliz por dentro )
It's such a feeling that my love
( É um sentimento tão forte que, meu amor, )
I can't hide, I can't hide, I can't hide
( Eu não consigo esconder, eu não consigo esconder, eu não consigo esconder )”
‘Se eu soubesse que você dançava tão bem teria te tirado pra dançar bem antes?’ James falou no meu ouvido e eu confesso que arrepiei até o ultimo fio de cabelo. O olhei sorrindo um pouco sem graça.
‘Não costumo.’ Ele também sorriu.
“Yeah, you've got that something,
( Você tem aquela coisa especial )
I think you'll understand.
( Acho que você vai entender )
When I say that something
( Quando eu digo aquela coisa especial )
I wanna hold your hand...
( Eu quero segurar a sua mão )”
Eu nem me importava mais com os vários olhares que a minha dança com o James estava causando, pela primeira vez naquela noite eu tinha conseguido esquecer do Arthur e da Anne, eu me senti de volta a minha adolescência sem problemas e sem filho.
‘Ai, preciso beber alguma coisa!’ Falei sorrindo idiotamente quando a musica acabou.
‘Hm, vamos lá na cozinha!’ James me pegou pela mão. Quando passei por Sophia, vi seu olhar de interrogação, mas só sorri e continuei caminhando de mãos dadas com James. Acho que nem eu mesma sabia o que estava fazendo.
Pegamos duas cervejas e fomos nos sentar em um banco no jardim que estava praticamente deserto, já que todos estavam dentro da casa assistindo o show dos meninos.
‘Então...’ Falei cortando o incomodo silêncio que tinha se instalado entre a gente.
‘Então...’ Ele repetiu o que eu disse e começamos a rir.
Senti James se aproximar lentamente de mim e virei meu rosto para encará-lo. Ele botou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha e deslizou a mão pra minha nuca. Quando senti sua respiração fraca bater em minha boca, a imagem de Arthur surgiu em minha mente me trazendo de volta à realidade.
‘James, não... eu não posso! O Arthur...’ Falei rápido e ele me olhou confuso.
‘O que tem o Arthur?’ Ele passou a mão a mão pelo cabelo, bagunçando-o.
‘Na-nada.’ Gaguejei sorrindo sem graça. ‘Eu preciso ir, James! Desculpa.’ Me levantei sem nem esperar resposta e entrei na casa procurando por Sophia.
Só depois de alguns segundos procurando por ela, me dei conta que o show já tinha terminado, ouvi a risada alta do Micael e me virei conseguindo enxergar So no meio de Chay, Micael e Charlie. Enquanto caminhava até eles, olhei pro palco e vi Arthur de costas, pensei em ir até lá falar com ele, mas antes que movesse um músculo se quer, vi que Anne estava na frente dele, encostada no palco. Corri até onde Sophia estava e ela me olhou assustada.
‘So , me leva embora daqui?’ Pedi com os olhos cheios de lágrimas e ela me abraçou.
‘Vamos!’ Ela pegou em minha mão e falou qualquer coisa no ouvido de Micael que concordou silenciosamente e me deu um beijo na testa. Saímos de lá sob o olhar atento dos três garotos. ‘O que aconteceu?’ Ela me perguntou enquanto caminhávamos até o carro.
‘Nada.’ Dei de ombros e ela me olhou com a sobrancelha arqueada. ‘Depois te conto, vamos pra casa, é só isso que eu preciso.’ Ela concordou silenciosamente e entramos no carro.
‘Quer que eu fique com você?’ Ela perguntou enquanto dirigia meu carro, já que eu mesma não tinha condições.
‘Quero.’ Sorri fraco e ela concordou balançando a cabeça.
Quando chegamos em casa eu fui no quarto do Rodrigo rápido e quando voltei pra meu quarto Sophia já tinha arrumado a cama e separado uma roupa pra mim.
‘Brigada!’ Sorri fraco e ela beijou minha testa.
‘Vamos dormir, vai.’ Sophia me empurrou para o banheiro para que eu trocasse de roupa.
‘So , a Anne é melhor que eu?’ Perguntei chorosa quando já estávamos deitadas na cama. Eu encarava o teto e Sophia estava de costas pra mim.
‘Mesmo que fosse, Lu, não é ela que o Arthur ama.’ Ela falou séria e eu entendi que ela não queria estender o assunto.
Fechei os olhos, mas imagens de Arthur, Anne e James ficaram circulando na minha cabeça, até o sono conseguir vencer todas elas, apagando-as da minha mente, pelo menos durante aquela noite
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