‘Shópi!’ Ele se embolou um pouco pra falar e eu ri. Diego agora repetia, ou pelo menos tentava repetir quase todas as palavras que eu falava, e eu achava aquilo a coisa mais linda.
Dei um beijo na bochecha dele e o carreguei pro meu banheiro para dar banho nele. Não demorou muito e nós dois já estávamos prontos pra sair de casa. Eu estava com uma blusa rosa básica, calça e all star, já Diego vestia uma pólo azul marinho com listras brancas, e uma bermuda branca. O olhei sorrindo e pude jurar que vi Arthur sorrindo de volta pra mim, a semelhança entre os dois às vezes me assusta. Saímos de casa, e como o shopping não é muito longe, uns 20 minutos depois já estávamos lá.
Passear no shopping com uma criança do lado é estressante e divertido ao mesmo tempo. Estressante porque Diego está na fase de conhecer as coisas, então ele nunca te contenta em ficar só olhando as coisas, ele tem que pegar, sentir. E é divertido porque ele sempre me faz rir, eu fico apontando as coisas e dizendo os nomes, e é engraçado vê-lo repetir minhas palavras.
‘Ca-mi-nhão, repete com a mamãe!’ Falei devagar enquanto segurava um caminhão de brinquedo e Diego sorria.
‘Minhão.’ Ele girou a rodinha do brinquedo e eu ri.
‘Não príncipe, é ca-mi-nhão.’ Falei ainda mais devagar.
‘Caminhão!’ Ele sorriu.
‘Isso, meu amor!!’ O peguei no colo e botei o brinquedo na prateleira. A cada nova prateleira eu pegava o brinquedo que ele mais gostava e falava o nome para que ele repetisse. Meu celular tocou dentro da bolsa e eu botei Diego no chão enquanto ele brincava com um urso de pelúcia.
‘Oi amiga!’
Sorri depois de ver que era Sophia do outro lado da linha. ‘Eu tô no shopping,
com o Diego quer vir pra cá também? A gente pode tomar um sorvete!’ Sorri. ‘Tá
bom, tô te esperando!’ Desliguei o celular e vi Diego brincando com uma
menininha. ‘Vamos meu amor? A tia Soph tá vindo pra gente tomar sorvete!’ Sorri
me agachando perto dele e da menina loirinha com um vestido rosa.
‘Sôveti!’
Ele sorriu e estendeu os braços pra que eu o pegasse no colo. ‘Dá tchau pra
menina.’ Falei acenando e ele fez o mesmo.
‘Tia Soph!’ Diego correu
quando viu Sophia andando em nossa direção. ‘Ei pequeno, tudo bem?’ Ela o
carregou enquanto eu me aproximava. ‘Hey amiga!’ Ela sorriu me
abraçando.
Caminhamos até uma sorveteria na praça de alimentação e depois
sentamos em uma mesa já com nossos sorvetes.
‘Algum progresso com o Arthur?’
Ela me olhou e eu balancei a cabeça negando.
‘Tudo na mesma.’ Dei de ombros.
‘Anteontem eu cheguei do trabalho e ele tava lá brincando com o Diego, daí
acabamos pedindo uma pizza e ele ficou lá até eu praticamente desmaiar de sono.’
Ri.
‘E rolou alguma coisa?’ Ela me olhou sugestiva. Eu olhei pra Diego que
estava mais interessado em se lambuzar com o sorvete e balancei a cabeça.
‘Se
você chama um beijo no canto da boca de alguma coisa, então rolou!’ Ela
riu e eu dei de ombros.
Ficamos passeando um pouco pelo shopping, até Diego
começar a perguntar pelo pai, já que ele não havia aparecido ontem lá em
casa.
‘Seu pai deve tá em casa, meu amor.’ Falei carinhosa vendo-o fazer
bico. Olhei pra Soph que ria da cena e balancei a cabeça. ‘Agora é assim, um dia
sem ver o Arthur e só falta morrer!’
‘Ai Lu, coitado! Deixa o menino curtir o
pai, leva ele lá na casa da Katia!’ Ela falou ainda rindo.
‘Vovó!’ Diego
sorriu e eu olhei pra Soph fazendo cara feia.
‘Não dá idéia, sua vaca!’ Dei
língua e ela deu de ombros.
‘Papai e vovó!’ Diego falou me dando tapinhas no
ombro.
‘Ai filho, como você me dá trabalho!’ Bufei. ‘Vamos lá na casa da sua
vó!’ Fiz uma cara derrotada e ele sorriu.
Me despedi de Soph quando chegamos
ao estacionamento e segui pra casa de Katia.
Diego estava
completamente inquieto, e só parou quando estacionei em frente à casa branca de
portões baixos. Soltamos do carro e percebi que o carro de Katia não estava por
ali, provavelmente Arthur estava sozinho em casa. Diego tocou a campainha e deu
uma risada histérica fazendo uma carinha sapeca. Demorou um pouco até a porta
abrir e eu ver uma loira abrir a porta apenas com uma blusa e calcinha. Dei um
passo pra trás tentando ver se aquela era mesmo a casa de Katia, mas não me
restavam duvidas.
‘Erm... o Arthur tá aí?’ Perguntei insegura e a loira
sorriu simpática.
‘Ele tá dormindo meu bem, mas eu acho que já já ele acorda.
Você quer esperar?’ Ela abriu mais a porta dando espaço para que eu passasse,
mas eu continuei parada a encarando. Ela levantou a sobrancelha sugestiva e eu
resolvi entrar na casa.
Observei uma camisa de Arthur jogada no chão da
sala e quando desviei meu olhar vi Arthur descendo as escadas só de boxer, os
cabelos bagunçados e a cara amassada.
‘Hey, bonitinho!’ A loira falou
sorrindo pra ele. Arthur a olhou atordoado e depois desviou o olhar pra mim e
Diego.
‘Lu!’ Ele quase gritou com uma cara meio desesperada. ‘Não é isso,
eu...’ Ele começou a falar, mas eu o interrompi.
‘Eu volto outra hora.’ Falei
séria enquanto a loira observava tudo fazendo uma cara de
desentendida.
‘Papaaai!’ Diego estendeu os braços enquanto eu caminhava até a
porta.
‘Lu, não, por favor.’ Arthur segurou meu braço, mas eu puxei
rapidamente.
‘Depois a gente conversa, Arthur.’ O olhei irritada enquanto
Diego se debatia no meu colo estendendo os braços para que o pai o
carregasse.
‘Paai.’ Ele choramingou enquanto eu lutava pra controlar as
lágrimas que queriam rolar por meu rosto.
‘Diego, vem aqui filhão!’ Arthur
sorriu fazendo menção de pegá-lo no colo, mas eu me afastei. ‘Deixa ele comigo,
Lu!’ Ele me olhou implorando e eu balancei a cabeça.
‘Eu não vou deixar ele
aqui!’ Falei baixo com os dentes cerrados.
‘Arthur, você tem um filho?’ A
loira se pronunciou com uma cara de espanto. Arthur a olhou de cima a
baixo.
‘Tenho, e olha... desculpa, mas eu nem ao menos lembro seu nome!’ Ele
passou a mão pelos cabelos bagunçando-os ainda mais.
‘Arthur, claro que você
lembra!’ Ela guinchou. ‘Não é possível que depois da nossa noite você não
lembre!’ Ela cruzou os braços e eu olhei espantada para Arthur.
‘Garota eu
tava bêbado, será que você não percebeu?’ Ele falou alto e Diego começou a
chorar.
‘Quando é que você vai aprender que as pessoas têm sentimentos,
hein?!’ O olhei séria e saí de casa batendo a porta com Diego ainda chorando.
‘Shh...calma meu amor, tá tudo bem! A mamãe tá aqui!’ O abracei
forte.
‘Lu, não é nada disso, me ouve!’ Arthur saiu de casa apenas de
boxer.
‘Eu já ouvi o suficiente, Arthur!’ Falei sem encará-lo.
‘Lu, eu
tava bêbado, não lembro de nada.’ Ele suplicou e eu me virei encarando seus
olhos desesperados.
‘Eu realmente achei que a gente podia começar de novo e
que tudo ia ser diferente.’ Balancei a cabeça e entrei no carro rápido. Arthur
não se moveu e nem falou mais nada, eu o encarei uma ultima vez e saí de lá
deixando que as lágrimas que já enchiam meus olhos rolassem por meu
rosto.
‘Soph, você pode ir lá em casa?’ Pedi tentando manter a calma para
que Sophia não percebesse meu desespero. ‘Eu te explico depois!’ Falei rápido
sem desviar a atenção da rua a minha frente. ‘Tá, brigada.’ Desliguei o celular
e joguei dentro da bolsa.
Minutos depois entrei em casa já com o choro
controlado. Diego ainda estava confuso, mas também já tinha parado de
chorar.
‘Lu, o que aconteceu?’ Sophia perguntou preocupada quando eu abri a
porta com cara de choro. Eu balancei a cabeça e voltei a chorar. ‘Me fala, o que
aconteceu?’ Ela me abraçou forte.
‘O Arthur, como sempre.’ Falei soluçando
com o rosto no ombro dela. ‘Eu fui lá e uma menina semi nua abriu a porta.’ Soph
me puxou pro sofá e nós sentamos, Diego observava tudo em silêncio sentado no
sofá. ‘Nunca vai mudar Soph, vai ser sempre a mesma história!!’ Falei com a mão
no rosto sentindo meus olhos arderem por causa das lágrimas.
‘Ai Lu, eu nem
sei o que te dizer!’ Ela me abraçou novamente passando as mãos por meus cabelos.
Eu apenas balancei a cabeça negativamente e suspirei pra controlar o
choro.
Ficamos em silêncio na sala por alguns minutos, eu já estava mais
calma e já tinha parado de chorar. Sophia estava brincando com Diego para não
deixá-lo preocupado.
‘Deixa que eu atendo.’ Me levantei quando ouvi a
campainha tocar. Senti minha cabeça latejar um pouco e caminhei lentamente até a
porta, quando abri vi Arthur ainda com aquele olhar desesperado.
‘Lu, eu...’
Ele nem começou a falar e eu bati aporta na cara dele. ‘Lu, por favor, não faz
isso!!’ Ele implorou do outro lado da porta e eu olhei pra Soph balançando a
cabeça.
‘Papai!’ Diego sorriu saindo do colo de Soph e correu até a
porta.
‘Ei, ei, volta aqui mocinho!’ O peguei no colo e ele estendeu o braço
pra porta.
‘Papaaai!’ Ele gritou e começou a chorar. Senti as lágrimas em
meus olhos novamente e suspirei indo abrir a porta. Arthur estava lá com as mãos
no bolso e ao que parecia com a cabeça encostada na porta. ‘Pai!’ Diego mais uma
vez estendeu os braços e Arthur sorriu tirando-o do meu colo.
‘Hey, campeão.’
Ele beijou a testa do filho e o abraçou. ‘Lu, a gente precisa conversar!’ Ele me
olhou sério e eu neguei balançando a cabeça.
‘Eu só abri a porta por causa do
Diego.’ Falei sentando no sofá e abraçando minhas pernas. Arthur me olhou com
uma cara triste e eu suspirei desviando o olhar para a janela.
‘Bincá!’ Diego
sorriu quando Arthur o botou no chão. Ele sorriu fraco e sentou no chão
colocando Diego no colo e ficou mexendo nos brinquedos espalhados pelo chão.
Olhei pra Sophia que me encarava séria e levantei indo pro meu
quarto.
Fechei a porta com um pouco de força e me joguei na cama
afundando o rosto no travesseiro, não queria começar a chorar de novo. Suspirei
profundamente virando meu rosto, mas ainda deixando-o afundado no travesseiro.
Meu olhar ficou preso em uma foto no criado mudo, era a mesma que eu tinha dado
pra Arthur alguns meses atrás, no hospital. Quem olhasse aquela foto iria achar
que somos o casal mais feliz e sem problemas do mundo, ledo engano. Ouvi uma
batida na porta, mas não respondi, continuei deitada. Eu não queria falar com
ninguém, nem mesmo com a Sophia.
‘Lu?!’ A voz de Arthur surgiu dentro do
quarto e eu fechei os olhos suspirando. ‘Eu sei que você tá acordada e que não
quer falar comigo, mas só me ouve!’ Ele pediu se aproximando e eu fitei a foto
no criado mudo em silêncio. ‘Olha, eu sei que eu fui um canalha, imbecil e você
tem toda a razão em estar me odiando e me evitando agora. Só acredita em mim
quando eu digo que não fiz aquilo consciente, eu realmente nem lembrava o nome
daquela garota. Na sexta feira eu saí daqui com um sorriso maior que meu rosto,
só por ter passado algumas horas com você e com Diego, isso é realmente
importante pra mim, vocês dois são importantes pra mim. Eu ia vir aqui ontem,
mas nós ficamos ensaiando o dia inteiro e de noite os caras me convenceram a ir
num pub e você deve imaginar todo o resto....
Lu, a primeira coisa que eu
pensei hoje de manhã foi em você e no Diego, sabe por quê? Por que essa foto aí
no criado mudo que você provavelmente está encarando agora, também fica do lado
da minha cama e é olhando pra ela que eu acordo todo dia. Quando eu olho pra ela
eu me sinto o cara mais sortudo do mundo, eu tenho o filho mais lindo e a garota
mais perfeita do meu lado, eu não ia estragar tudo isso só por uma noite com uma
garota.’ Ele parou de falar suspirando e eu passei a mão pelo rosto enxugando as
lágrimas que caíram enquanto ele falava.
‘Eu só queria um novo começo,
Arthur. Queria que tudo fosse diferente dessa vez, mas você sempre repete os
mesmos erros.’ Falei tentando manter a voz firme. ‘Eu acredito em você Arthur,
mas, por favor, vai embora. Eu preciso de um tempo pra mim mesma. Não vou te
impedir de ver seu filho de maneira alguma, pode aparecer pra vê-lo sempre que
quiser. O problema somos nós dois, se existir mesmo um nósnessa história
toda.’ A ultima parte saiu como um sussurro, mas eu tinha certeza que ele
ouvira.
Arthur não disse nada, senti ele se aproximar da cama e se afastar
logo depois fechando a porta do quarto.
Segundos depois virei meu rosto
só mesmo pra ter certeza de que ele tinha saído e vi um papel em cima da cama.
Peguei a folha pensando que era alguma coisa que Arthur tinha deixado e sorri
comigo mesma quando percebi que era um desenho de Diego onde ele estava no meio
e eu e Arthur segurávamos suas mãos. Entre mim e Arthur haviam duas setas
apontando pra uma frase: meant to be. Reconheci
a letra de Arthur e deixei uma lagrima cair por meu rosto.
++++++++++++++++++++++++++
ResponderExcluir